Moro minimizou polêmica sobre foto ao lado de Doria, mas ignorou escândalo da PPP da Iluminação

O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba e responsável pelas ações penais resultantes da Operação Lava-Jato, vem sendo tratado pela opinião pública nacional como herói, quando na verdade cumpre o papel a que se propôs quando ingressou na magistratura: aplicar a lei de forma isonômica e sem privilégios a quem quer que seja. Não é de hoje que o UCHO.INFO afirma que, mesmo o País tendo carência de heróis, mitificar um servidor público é extremamente perigoso.

Em Nova York, onde foi agraciado com o prêmio “Personalidade do Ano”, da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, Moro se deixou fotografar ao lado de João Agripino Doria Junior, ex-prefeito da capital paulista e candidato do PSDB ao governo de São Paulo.

O juiz da Lava-Jato deveria pensar melhor antes de algumas situações constrangedoras, pois a sociedade não aceita esse tipo de situação, como a que ocorreu em Nova York. No dia seguinte à premiação, Moro minimizou a polêmica que surgiu no vácuo da controversa foto, mas não é assim que deve agir um representante do Judiciário. Principalmente se considerado o fato de que o presente ano é de eleições gerais e João Doria poderá tirar dividendos do registro fotográfico.

Não se pode negar a determinação de Sérgio Moro para enfrentar poderosos ao condenar políticos corruptos e empresários corruptores, mas sua assessoria poderia atualizá-lo sobre o que ocorre diuturnamente na política nacional. Assim fosse, o juiz escaparia de situações nada positivas.


Talvez o juiz da Lava-Jato não saiba, mas recentemente a Prefeitura paulistana foi alvo de um rumoroso escândalo envolvendo a iluminação pública da maior cidade brasileira. Uma denúncia grave de corrupção obrigou a Justiça paulista a suspender a PPP da Iluminação Pública, colocando em situação de dificuldade o consórcio vencedor, liderado pela empresa FM Rodrigues.

Em 2017, logo após assumir como prefeito, João Doria criou uma cartilha com informações sobre como os servidores municipais devem se comportar em processos de privatização. E a PPP da Iluminação Pública de São Paulo se encaixa nesse parâmetro.

Tomando por base a tal cartilha moralizadora, João Doria não tinha razão para ignorar a forma com foi conduzido o processo licitatório da mencionada PPP. O então prefeito pode alegar que os muitos afazeres do cargo o impediam de conhecer tudo o que se passava na órbita da administração paulistana, mas que o conhece sabe que esse não seu perfil. Não obstante, a imprensa noticiou à exaustão a forma conturbada como o processo da PPP foi conduzido.

Longe de querer afirmar que João Doria sabia do esquema de corrupção – há quem garante que sabia –, o então prefeito poderia ter chamado ao seu gabinete os colaboradores envolvidos na licitação e cobrado explicações. E isso não aconteceu. Aliás, há nesse caso muitos escândalos pendulares que ainda não vieram à tona. Por esse motivo, o juiz Sérgio Moro deveria ter negado o pedido de Doria para a polêmica fotografia. Em outras palavras, “diga-me com quem andas e te direi quem és”.

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