Alvo de busca e apreensão em São Paulo, Gilberto Kassab tem sigilo bancário quebrado pelo Supremo

A Polícia Federal cumpre nesta quarta-feira (19) oito mandados de busca e apreensão expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo (2010 a 2016) e indicado para a Casa Civil no governo de João Doria (PSDB), é um dos alvos da ação. Policiais federais foram ao apartamento de Kassab em bairro nobre da capital paulista.

Autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, a operação desta quarta-feira é fruto de pedido formulado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge. O ministro determinou a quebra dos sigilos bancário e telefônico do ministro e concordou com buscas nas empresas da família de Kassab.

Um grupo de 40 policiais federais cumpre mandados de busca e apreensão, dos quais seis em São Paulo e dois no Rio Grande do Norte. Os alvos são investigados pelos crimes de corrupção passiva e falsidade ideológica eleitoral.

No Rio Grande do Norte, as medidas judiciais estão relacionadas ao governador Robinson Faria (PSD), e ao filho dele, o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN).

No apartamento do ministro Gilberto Kassab, os policiais federais apreenderam R$ 300 mil em dinheiro vivo. Kassab, Robinson e Fábio Faria negam irregularidades.

As investigações têm como base informações transmitidas durante delações premiadas de executivos do grupo J&F, dos empresários Joesley e Wesley Batista. O objetivo é apurar suposto recebimento de vantagens indevidas por parte de Gilberto Kassab enquanto estava na Prefeitura paulistana.


De acordo com a PF, as vantagens teriam sido exigidas pelo grupo empresarial do ramo de proteína animal em troca da defesa de interesses, assim como para direcionar o apoio político na campanha presidencial de 2014.

A suspeita é que os valores eram recebidos por empresas por meio da simulação de serviços que não foram efetivamente prestados e para os quais foram emitidas notas fiscais falsas.

Ao todo, o esquema teria movimentado R$ 58 milhões em duas situações distintas, segundo as investigações. Em delação premiada, o empresário Wesley Batista disse que, no período investigado, a empresa pagou a Kassab uma mesada de R$ 350 mil para contar com a influência do político em “alguma necessidade futura”. Somadas, as mesadas alcançariam o montante de R$ 30 milhões.

De acordo com a delação do dono do grupo J&F, o dinheiro chegava a Kassab por meio da empresa Yape Assessoria e Consultoria, da qual o ministro é sócio.

Outro executivo do J&F, Ricardo Saud, relatou em depoimento de delação premiada que, nas eleições de 2014, o PT comprou o apoio político de Kassab e do PSD por meio de doações oficiais, através do uso de notas fiscais avulsas, além do pagamento de R$ 5,5 milhões para a Yape. A compra do apoio do partido teria somado, ao todo, R$ 28 milhões.

“Suspeita-se que os valores eram recebidos por empresas, através da simulação de serviços que não foram efetivamente prestados e para os quais foram emitidas notas fiscais falsas”, afirma a nota da PF.