(*) Carlos Brickmann –
O jornalista Ricardo Kotscho, diante das pesquisas que colocam Marina Silva em segundo lugar na disputa presidencial, logo abaixo de Dilma Rousseff, pergunta: E se Marina ganhar? Como e com quem vai governar?
A resposta, como diria o senador Suplicy se cantasse em português, é trazida pelo vento. Nada mais simples: se Marina Silva ganhar, vai governar com seus seguidores de sempre, adeptos da natureza, defensores do meio ambiente, protetores dos povos da floresta, praticantes da sustentabilidade, reciclagem e consumo responsável.
Terá a seu lado sonháticos que cuidam com carinho da terra; terá com ela o senador Sarney, o deputado Alfredo Nascimento, o senador Jucá, o deputado Maluf, o senador Renan Calheiros, o deputado Marcos Feliciano, o senador Fernando Collor; partidos preocupados com temas como o aquecimento global – PCdoB, por exemplo; líderes políticos comprometidos com a causa socioambiental, como Kassab, Delfim, Palocci, Waldemar Costa Neto. Não falta gente para formar um Governo e até estender sua ecológica militância pelos Estados. A exemplo do Acre, império sustentável dos irmãos Jorge e Tião Vianna.
Seguindo Marina, seus eventuais colaboradores serão, como ela, ativos defensores dos direitos dos animais – e, como ela, vegetarianos. Como são hoje, aliás; embora muitos deles não larguem do osso, a erva viva que circula em Brasília é o que melhor os alimenta. Se Marina ganhar, gente para ajudá-la não lhe faltará.
O terceiro nome
E, como quem pode dois pode três, a Guilherme Afif, que é vice-governador de Alckmin e ministro de Dilma, caberia acumular a coordenação da campanha de Marina. Marina é contra Dilma, e daí? Alckmin também é, e Afif dá um jeito.
Uma dúvida…
Trem-bala e caças supersônicos. Há algo que ande mais devagar neste país?
…uma resposta
Há: investigações sérias sobre corrupção em geral. A Petrobras comprou uma refinaria em Pasadena, EUA, é acusada de ter pago muito mais do que o preço de mercado, e há meses conversa-se sobre o tema – só se conversa. Há também o depoimento de um ex-funcionário da Petrobras, João Augusto Henriques, sobre um esquema de corrupção que alimentava o PMDB. E, é claro, não pode ser investigado: o PMDB está no poder onde quer que haja poder, aliado aos mais diversos partidos. A ninguém interessa seguir o fio das investigações. Sabe-se lá onde este fio pode chegar?
A mesma coisa ocorre com o caso Siemens – Alstom, que envolve formação de cartel para venda de serviços e equipamentos ao Metrô e aos trens urbanos de São Paulo. Acontece que as duas empresas vendem para o país inteiro, para governos de partidos diversos (por exemplo, a Alstom fornece turbinas para a usina de Belo Monte, obra federal). Fazer carnaval, tudo bem: cada partido acusa o outro de corrupção, ameaça convocar CPIs, distribuir dossiês, revelar tudo sobre a ladroeira alheia.
Mas investigar a sério é outra coisa: sabe-se direitinho aonde pode chegar o fio das investigações. E sabe-se que dá choque.
É mas não é. Ou não.
Um grande político baiano, Octavio Mangabeira, cunhou uma frase fantástica: “Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. Poderia ser mais ambicioso: se o absurdo for realmente absurdo, no Brasil há precedente. Pois não é que o Supremo Tribunal Federal inicia o estudo, hoje, da possibilidade de transformar a última instância em penúltima? Oito meses depois de determinar a sentença dos réus condenados no processo do Mensalão, o Supremo discute se pode ou deve rever a decisão da qual não cabe recurso – mas, se o recurso se chamar embargo, recurso talvez possa haver. Enfim, seja qual for o nome do que está sendo debatido, onze dos 25 condenados podem ter a sentença reduzida. E penas de prisão em regime fechado serão, no caso, modificadas para regime semiaberto.
E assim terminará o caso? Não: o deputado Nathan Donadon foi condenado à prisão em regime semiaberto e já está cumprindo pena. Mas, como o Supremo decidiu que quem pode cassar mandatos é o Congresso, enquanto o Congresso não tomar sua decisão o nobre parlamentar pode exercer a função de deputado durante o dia e virar presidiário à noite, dormindo na cadeia. Dos onze condenados pelo Mensalão cuja sentença pode ser reduzida – ou não – José Genoíno e João Paulo Cunha são deputados. E talvez consigam trabalhar em meio período.
A história oficial
A secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Maria Filomena de Luca Miki, foi assaltada em Diadema, SP. Deu queixa na delegacia, mas não contou que era secretária nacional de Segurança Pública. E, como seu celular tinha GPS, a Polícia achou tudo o que lhe tinha sido roubado. Louve-se a modéstia de Sua Excelência, que conseguiu prestar queixa sem informar o emprego que ocupa. Louve-se o comportamento dos bandidos, que não levaram consigo uma aliança de ouro nem uma caneta cravejada de cristais Swarowski, deixando-as ao lado do celular com GPS.
Louve-se a Polícia, que recuperou tudo. Louve-se este colunista, que reproduziu a história sem comentários.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.