Remoção violenta de acampamentos pró Mohammed Morsi deixa mortos no Egito

(Khaled Desouki - AFP/GettyImages)
Clima tenso – Na manhã desta quarta-feira (14), forças de segurança egípcias começaram a remover dois acampamentos de apoiadores do presidente deposto Mohammed Morsi, localizados nas praças Rabaa al-Adawiya (leste) e Al Nahda (centro).

As operações deixaram um contingente de mortos e feridos ainda não confirmado. Segundo o Ministério da Saúde, nove manifestantes morreram e 80 ficaram feridos. Um correspondente da agência de notícias AFP relatou ter contado 17 corpos numa tenda na Praça Rabaa al-Adawiya. Entre os mortos do confronto estão ao menos dois policiais, divulgou o Ministério do Interior.

Para a Irmandade Muçulmana, o grupo do qual Morsi é oriundo e que forma a grande maioria de seus apoiadores, ao menos 250 pessoas morreram e 5.000 ficaram feridas durante as ações de remoção, segundo relato de um porta-voz pelo serviço de microblog Twitter. O governo egípcio, por sua vez, confirma a morte de quatorze manifestantes.

Muçulmanos falam em massacre

A intervenção começou por volta das 7 horas (horário local) desta quarta-feira em acampamentos de manifestantes pró-Morsi instalados nas praças al-Nahda e Rabaa al-Adawiya. As forças de segurança usaram tanques militares para remover os acampamentos.

Segundo testemunhas, a polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes, que jogaram pedras e garrafas em direção aos policiais. Testemunhas disseram que a polícia jogou gás lacrimogêneo dentro das barracas dos manifestantes acampados.

Três horas após o início da operação, o Ministério do Interior afirmou que a polícia teria assumido o controle da praça Al Nahda, localizada no bairro de Giza, e onde estava o menor dos dois acampamentos.

Na manhã desta quarta-feira, diversos manifestantes ainda se encontravam nos arredores da mesquita Rabaa al-Adawiya, em Nasr City. O Ministério do Interior ordenou a paralisação do transporte ferroviário em todo o Egito.

A Irmandade Muçulmana, que apoia Morsi, fala em massacre, mas as informações não puderam ser confirmadas por observadores independentes.

Na última semana, o governo interino egípcio deu sinal verde para a desocupação dos acampamentos pelas forças de segurança. Os manifestantes haviam levantado os acampamentos para forçar a volta do presidente, deposto pelos militares em 3 de julho último.

(Khaled Desouki - AFP/Getty Images)

Turbulência política e econômica

Desde os levantes da Primavera Árabe, em 2011, que deram fim a três décadas de regime autocrático liderado por Hosni Mubarak, com apoio ocidental, o Egito vem sendo convulsionado pela turbulência política e econômica. E a mais populosa nação muçulmana está agora mais polarizada do que nunca.

O Ocidente está preocupado com o rumo seguido pelo Egito, que tem o domínio do Canal de Suez e recebe US$ 1,5 bilhão por ano em ajuda militar dos Estados Unidos.

Mais de 300 pessoas já morreram vítimas da violência política desde o afastamento de Morsi pelos militares no início de julho.

Morsi tornou-se, em junho do ano passado, o primeiro presidente eleito livremente no Egito, mas falhou em resolver os graves problemas econômicos que afetam o país e causou preocupações em muitos egípcios por seus aparentes esforços de instalar um regime islâmico no Egito. (Com agências internacionais)