Ao dizer que eventual prisão de Lula causaria instabilidade no País, Michel Temer advogou em causa própria

michel_temer_1030

Na política não há coincidência e nada acontece por acaso, pois nessa seara sempre prevalece o interesse escuso. Em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, o presidente Michel Temer mostrou de forma transversa o quanto está preocupado com o avanço da Operação Lava-Jato, que deve ganhar contorno explosivo com a colaboração premiada da Odebrecht e uma eventual delação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Como se advogasse em causa própria, Temer disse aos entrevistadores que uma eventual prisão de Lula, o dramaturgo do Petrolão, poderá causar clima de instabilidade no País, o que não significa que isso não possa acontecer. Como vem afirmando o UCHO.INFO ao longo dos últimos meses, a prisão do ex-metalúrgico é questão de tempo e deverá acontecer no âmbito do controverso escândalo do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, no interior de São Paulo.

Michel Temer, que, segundo informações, terá o nome incluído na delação conjunta da Odebrecht, incensa a tese da instabilidade como forma de interferir em eventual decisão da força-tarefa da Lava-Jato contra ele próprio. Sebe que o cipoal de provas dos executivos e ex-funcionários da empreiteira baiana é vasto e tem alto poder de destruição. Segundo informações, pelo menos duzentos políticos serão arrastados ao olho do furacão, além de uma dúzia de governadores e uma dezena de ministros de Estado.

Questionado sobre os projetos que tramitam no Congresso e duramente criticados pelas autoridades da Lava-Jato, como a lei sobre o abuso de autoridade, o presidente da República assegurou que tais propostas não paralisarão as investigações sobre o maior esquema de corrupção de todos os tempos.


Temer negou ter cometido qualquer irregularidade ao receber R$ 11 milhões de duas empreiteiras, na campanha de 2014, e afirmou que ninguém deve ser “morto politicamente” apenas por ser alvo de investigação, em clara referência a ministros e colaboradores de seu governo que tiveram os nomes citados por delatores da Lava-Jato.

“Não é que eu defenda a Lava-Jato. Defendo a atividade do Judiciário e do Ministério Público”, afirmou o presidente. Sobre a possibilidade de envolvimento de integrantes do governo na investigação, Michel Temer respondeu: “Vamos deixar o Judiciário trabalhar. E vamos trabalhar no Executivo. Se acontecer alguma coisa, paciência”.

Michel Temer sabe o grau de comprometimento de muitos dos seus colaboradores no esquema de corrupção que funcionou durante uma década na Petrobras, pois o PMDB ocupou a vice-presidência da República nos dois mandatos da petista Dilma Rousseff, período em que a roubalheira institucionalizada avançou de forma impressionante no País.

Sobre a eventual prisão de Lula, não se pode esquecer que nenhum cidadão está acima da lei, mesmo que no Brasil alguns ainda mantenham privilégios absurdos. Como o petista-mor afunda cada vez mais na lama do Petrolão, seu encontro com a Justiça é inevitável, uma vez que aumentam as acusações de corrupção contra o petista, que antecipada e espertamente vem disseminando a tese de que é vítima de perseguição política e de caçada judicial. Isso porque Lula crê que se for preso será transformado em herói da noite para o dia, ao passo que se morrer será mártir.

apoio_04