Boni admite que Rede Globo manipulou debate entre Collor e Lula, em 1989

Hora da verdade – José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, concedeu uma entrevista a Geneton Moraes Neto, ocasião em que falou do lançamento de seu livro, cujo título é “O Livro do Boni”. Durante a conversa com o experiente jornalista, o ex homem forte da Rede Globo admitiu que a emissora carioca vestiu a camisa da candidatura de Fernando Collor de Melo no debate contra Luiz Inácio Lula da Silva que antecedeu a eleição de 1989, a primeira depois do fim da ditadura militar.

Segundo Boni, o então superintendente-executivo da Globo, Miguel Pires Gonçalves, foi procurado pela assessoria de Collor e na sequência pediu que ele [Boni] palpitasse no evento. Desde a chegada dos militares ao poder, após o golpe de 1994, a Rede Globo sempre procurou manter em cargos de direção pessoas com vínculos familiares com integrantes de alta patente das Forças Armadas. Miguel Pires Gonçalves é filho do general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército entre 1985 e 1990.

“Eu achei que a briga do Collor com o Lula nos debates estava desigual, porque o Lula era o povo e o Collor era a autoridade”, revelou Boni. “Então nós conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma ‘glicerinazinha’ e colocamos as pastas todas que estavam ali com supostas denúncias contra o Lula – mas as pastas estavam inteiramente vazias ou com papéis em branco.”

Foi uma maneira, alegou um dos mais competentes profissionais da televisão brasileira, de melhorar a postura do candidato junto ao espectador para que ele ficasse “em pé de igualdade com a popularidade do Lula”, revelou Boni. “Todo aquele debate foi [produzido] – não o conteúdo, o conteúdo era do Collor mesmo -, mas a parte formal nós é que fizemos”, completou.

A revelação de Boni, que não é nenhuma novidade para quem há décadas vive o cotidiano da política nacional, mostra não apenas a genuflexão interesseira dos grandes veículos de comunicação do País, mas a desfaçatez de Luiz Inácio da Silva, que no velório de Roberto Marinho derramou lágrimas sobre o ataúde do criador da Vênus Platinada.