Depois de duas décadas, número de mortos no Massacre do Carandiru, em São Paulo, ainda é um mistério

Sem piedade – Há exatos vinte anos, em 2 de outubro de 1992, por ordem do então governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, a Polícia Militar invadiu a Casa de Detenção e promoveu o que entrou para a história como o Massacre do Carandiru. Na tentativa de conter uma rebelião no Pavilhão 9 que começara a partir de uma briga entre presos, os policiais entraram atirando e mataram oficialmente 111 presos.

Comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, condenado a 632 anos de prisão e assassinado em setembro de 2006, a desbaratada operação fez um número de mortos muito superior ao divulgado pelo governo paulista. Durante entrevista ao editor do ucho.info, sob a condição de anonimato, um agente penitenciário aposentado que estava de plantão no dia da invasão revelou que aproximadamente 300 detentos foram executados de maneira covarde e sem qualquer chance de reação.

No escritório de seu advogado, no centro da capital paulista, o tal agente penitenciário detalhou a operação da Polícia Militar e afirmou, sem titubear, que os demais corpos foram retirados do local em caminhões de lixo e descartados em locais incertos da Grande São Paulo. O número oficial de mortos, segundo o agente, refere-se aos presos que tinham em seus registros dados de familiares e de contato. O restante era de presos nascidos em outros estados da federação e cujas famílias jamais souberam do paradeiro dos mesmos.

No ano seguinte, em 1993, os presos sobreviventes, revoltados com a operação policial, criaram uma facção que pode ter sido a célula embrionária do que hoje é o Primeiro Comando da Capital, o PCC. Mas essa tese é questionada, pois não há provas que confirmem a ligação entre o massacre e a facção que domina os presídios paulistas.