Pronunciamento de Dilma foi narração de documentário e não tirou a petista da forca do impeachment

dilma_rousseff_1101

A legislação vigente no País garante ao réu o direito de permanecer em silêncio diante de seus julgadores, o que desobriga o mesmo de produzir provas contra si, mas o pronunciamento de Dilma Rousseff, a presidente afastada, no plenário do Senado Federal está longe de ser uma defesa, mas a locução enfadonha de um documentário que servirá para nada.

No momento em que senadores petistas afirmaram, nos últimos dias, que Dilma faria um discurso histórico ao se defender das acusações, por certo abusaram do otimismo oportunista, pois a fala da presidente afastada é o que muitos chamariam de “tiro no pé”.

Longe do prometido discurso emotivo, que serviria para sensibilizar os senadores, Dilma optou pelo caminho do confronto pontual, mesmo que isso tenha se dado de forma camuflada. Ao falar em “governo usurpador”, em referência ao governo interino de Michel Temer, Dilma ignorou o PMDB, maior partido do Congresso Nacional e que há de impor-lhe derrota histórica. A petista errou ao conectar o mencionado “governo usurpador” à ausência de mulheres na administração Temer é distorcer a realidade, pois a sugerida misoginia não é sinônimo de usurpação, assim como não é a ausência de negros na equipe ministerial.

“Um golpe que, se consumado, resultará na eleição de um governo indireto e usurpador. A eleição indireta de um governo que na sua interinidade não tem mulheres nos ministérios quando o povo nas urnas escolheu uma mulher para comandar o País. Um governo que dispensa negros na sua composição ministerial e revelou profundo desprezo pelo programa escolhido e aprovado pelo povo em 2014”, disse a petista.

Tentando eximir-se dos crimes que lhe são imputados, Dilma afirmou que, no ato de sua posse, assumiu o compromisso de respeitar a Constituição Federal. “Sempre acreditei na democracia e no estado de direito. Jamais atentarei contra o que acredito ou praticaria atos contra os interesses daqueles que me elegeram”.


A petista violou a Carta Magna ao editar decretos sem a autorização do Congresso, mas crê que seu ato é um detalhe menor, pois, segundo ela, era preciso cumprir com os compromissos, em especial os sociais. Ou seja, Dilma reforçou a tese “os fins justificam os meios”.

“Não luto pelo meu mandato por vaidade ou apego ao poder, como é próprio dos que não têm caráter. Luto pelo povo do meu país, pelo seu bem estar”, disse Dilma, que fosse minimamente coerente já teria renunciado, pois a nação sangra à sombra de uma crise sem precedentes e que ela própria criou. Sobre a ausência de caráter daqueles que têm apego ao poder, Dilma pode falar sobre o tema com destreza, pois seu principal conselheiro encaixa-se nesse perfil.

Destarte, foi devaneio de Dilma falar, em seu discurso, sobre “conquistas sociais dos últimos treze anos” e “valorização do salário mínimo”, como se o PT tivesse substituído Pedro Álvares Cabral como descobridor do Brasil. A crise econômica avançou de maneira impressionante no rastro da incompetência e da teimosia de Dilma, mas a petista insistiu em tergiversar sobre aquilo que diz ter feito, mas não fez. “O que está em jogo no processo de impeachment não é o meu mandato. O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos”.

Ao contrário do que recomendaram seus assessores, Dilma recorreu à cantilena do golpe ao mencionar a “aliança golpista” apoiada por “setores da mídia”. Despejar a culpa sobre parte da imprensa é algo recorrente no Brasil, em especial quando políticos fracassam em seus propósitos ou são flagrados em desvios e desmandos.

Não se pode afirmar que Dilma perdeu o controle ao fazer sua defesa, mas falar em golpe é alimentar desnecessária uma fogueira de altas labaredas. Até o momento, o impeachment é um caminho sem volta, porém o discurso da afastada serviu apenas para embalar um documentário que, como acima mencionado, servirá para nada.

apoio_04