Uso de armas químicas na Síria coloca Barack Obama em dificuldade

Xis da questão – O uso de armas químicas pelo governo do presidente Bashar al-Assad, da Síria, contra os rebeldes ganha contornos preocupantes com o silêncio quase que obsequioso de governantes que deveriam decretar o fim da barbárie.

Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama declarou, em agosto de 2012, que o uso de armas químicas na Síria representaria a “linha vermelha”, que, se violada, significaria o início de uma intervenção militar no país árabe. Quando o uso desse tipo de armamento é denunciado, como aconteceu na última quarta-feira (21), a Casa Branca se vê obrigada a tomar uma decisão. E a pressão ocorre dentro e fora dos Estados Unidos.

Exatamente um ano após a declaração de Obama, que fixou um limite para as ações na Síria, o governo dos EUA continua indeciso em relação a uma intervenção militar nos domínios de Bashar al-Assad, um ditador sanguinário que não mede esforços para permanecer no poder. De acordo com o jornal “The New York Times”, Obama reuniu-se na quinta-feira (22) com membros da cúpula do Pentágono, do Departamento de Estado e do serviço de inteligência para discutir uma possível ação militar.

Durante o encontro, que durou aproximadamente quatro horas, discutiu-se o uso de mísseis de longo alcance ou uma campanha aérea, mas ao final não houve consenso entre os participantes. Em entrevista, Barack Obama afirmou que os EUA ainda estão “coletando informações” sobre o suposto ataque com gás Sarin na Síria, que, de acordo com os rebeldes, teria provocado a morte de pelo menos 1,3 mil pessoas. No contraponto, o presidente dos EUA disse que o caso requer a “atenção americana”.

“A ideia de que os Estados Unidos podem, de alguma forma, resolver um problema sectário e complexo dentro da Síria é, às vezes, exagerada”, declarou Obama, que fez questão de destacar a intervenção militar no Afeganistão e os altos custos humanos de uma participação em guerra.

Acontece que o governo de Damasco está usando diversas armas químicas, não apenas o gás Sarin, que estaria sendo utilizado para dificultar as investigações dos observadores que chegaram à Síria, mas têm encontrado obstáculos para iniciar o trabalho que pode confirmar definitivamente a denúncia dos rebeldes. As ogivas com armas químicas estão sendo lançadas por foguetes de fabricação russa, que recentemente passaram por um processo de reforma e modernização na Coreia do Norte.

Senões e reticências de uma intervenção

O uso cada vez mais evidente de armas químicas por Bashar al-Assad recrudesce a discussão – antiga , é bom lembrar – sobre uma intervenção militar na Síria, que há meses vive uma sangrenta guerra civil, marcada pela covardia dos aliados do ditador do país.

A França foi a primeira nação a se posicionar a favor do uso da força para conter a barbárie que vem devastando a Síria. Em outro ponto da polêmica discussão, que não pode se arrastar por muito tempo, Turquia e Israel se limitam a cobrar uma ação rápida e eficaz.

Longe do problema, o Ocidente tem sido palco de discursos mornos sobre o que vem ocorrendo na Síria. Mas de maneira quase generalizada as opiniões convergem para a precaução antes de uma intervenção militar na seara do ditador al-Assad.

Liquidar a carnificina que vem ocorrendo na Síria depende de interesses que ultrapassam as fronteiras do país árabe. Enquanto rebeldes e aliados de Bashar al-Assad se engalfinham, Estados Unidos e Rússia fazem do palco da tragédia um tabuleiro de xadrez político. Barack Obama redobrou a cautela antes de decidir pela intervenção militar, pois sabe que na outra ponta está Vladimir Putin, que como ex-agente da KGB já decorou a cartilha que ensina como se frio e calculista.

A Casa Branca defende a manutenção da democracia, mesmo que para isso seja preciso usar a força. Foi com base nesse entendimento que Obama autorizou o fornecimento de armas aos rebeldes sírios. Por outro lado, o Kremlin tem apoiado deliberadamente o governo truculento de Damasco. Para colocar mais combustível na fogueira, Putin conta com o apoio do Irã nessa empreitada sanguinária. Uma eventual intervenção militar na Síria, liderada pelos Estados Unidos, poderia acender os ânimos dos radicais de Teerã, que há muito ameaçam atacar Israel.

As relações entre a Casa Branca e o Kremlin azedaram com a decisão de Putin de, após muita encenação, conceder asilo temporário a Edward Snowden, técnico de informática que trabalhava na National Security Agency (NSA) e revelou o esquema de espionagem do governo norte-americano.

O combustível que é uma ameaça

Esse quebra-cabeça, embalado pela sordidez que emoldura o cotidiano sírio, ganhou força depois que Mohammed Morsi foi apeado da presidência do Egito. Com a queda de Morsi, a Irmandade Muçulmana perdeu terreno e acabou sendo proibida na terra das pirâmides. O grande e explosivo detalhe é que os rebeldes sírios são apoiados, inclusive financeiramente, pela Irmandade Muçulmana, que conta com o apoio logístico e financeiro do governo do Qatar.

Fato é que a Síria vive um dilema enquanto o povo tomba nas ruas das principais cidades do país. A vitória de Bashar al-Assad, cada vez menos provável, significa a perpetuação de um regime de exceção, em que prevalece a truculência e a barbárie. Uma eventual derrota de al-Assad representa a abertura o caminho para a Irmandade Muçulmana, que proibida no Egito concentrará seu radicalismo religioso em um país devastado.

Acabar com a guerra civil na Síria – que começa a ganhar contornos de crime contra a humanidade – e manter minimamente a democracia local exigirá uma operação conjunta de países que ainda contabilizam os dividendos negativos de ocupações como a do Afeganistão e do Iraque. O custo político de uma ação como a que exigirá o “Day After” na Síria ninguém quer assumir. Resumindo, o impasse continuará sendo financiado pela barbárie.