Mulheres na política e no poder

    (*) Marisa Serrano

    O sociólogo francês Alain Touraine publicou recentemente um livro no Brasil (“O Mundo das Mulheres”, Editora Vozes) no qual produziu uma frase que sintetiza o espírito de nosso tempo: “o movimento das mulheres faz emergir um novo modelo geral de ação coletiva e de experiência individual, intervindo de forma determinante na vida social e política”.

    Segundo suas análises, as mulheres adquiriram uma tamanha experiência com as complexidades da vida privada que, à medida que os direitos femininos se ampliam ao longo do tempo, chegará o momento em que toda essa bagagem cultural será colocada a favor da esfera pública, transformando definitivamente a história da humanidade.

    Sabemos, contudo, que todo processo é lento e tem suas idas e vindas. As diferenças entre os homens e as mulheres criam, naturalmente, problemas intransponíveis. Por um lado, isso pode ser enriquecedor – como podemos constatar em vários níveis -, embora a desigualdade possa também se transformar em obstáculos para o avanço social, como tem acontecido, principalmente no que tange à violência contra as mulheres.

    Não há dúvida, porém, que as mulheres sofrem restrições e coações de ordem cultural e psicológica, embora venha ficando cada vez mais evidente que, no final do processo, o prejuízo é de toda a sociedade. Por isso, insiste-se na idéia de aumento da participação das mulheres nas esferas de poder político como maneira de se estabelecer um novo modelo de representação do sujeito, indo além, inclusive, do conceito de gênero.

    Neste aspecto, por experiência própria, considero que as mulheres devem lutar cada vez mais para disputar o poder, mas procurar exercê-lo com características próprias e específicas, com sensibilidade, com senso de justiça e com os mesmos zelos morais com os quais cria seus filhos e cuida de sua casa.

    Por isso, a participação das mulheres nas esferas de poder tradicionalmente dominadas pelos homens é de fundamental importância para o avanço das políticas públicas no Brasil e no mundo.

    Cabe às mulheres o papel de agentes da transposição das coisas chãs para o chamado mundo da “grande política”. Ou seja: o sujeito feminino tem a tarefa de sedimentar nos planos institucionais aqueles ideais que são construídos no dia-a-dia, quais sejam, os cuidados com o próximo, o senso ético, a tolerância com as diferenças e as relações fraternas entre as pessoas.

    É por essa razão que o setor educacional é tão importante para as mulheres. A escola é o ponto de passagem fundamental entre o mundo privado e o mundo público. É ali que se forja a personalidade individual e se levantam os problemas de ordem social e cultural. A cidadania poderá ganhar outro modelo de pensamento E assim a política será, de fato, exercida com todo o potencial transformador que a democracia lhe confere.