Mudar é preciso, sempre e coletivamente!

Mudar é parte integrante da alma dos inquietos e irrequietos, daqueles que sonham, criam e realizam. Dos que buscam um mundo melhor, mais justo e igual. Foi por essas razões que, após vários anos longe do Brasil, voltei e resolvi ficar. Foi um retorno sem planejamento, algo que aconteceu sem querer. Entremeado à surpresa do fico, percebi que era preciso novamente lutar por mudanças.

Tudo recomeçou como se fosse o primeiro de todos os começos. Com direito às dificuldades de uma estreia inocente. Os anos passaram a emoldurar o retrovisor do cotidiano, os erros permitiram acertos melhores, mais constantes e duradouros. Foram tempos simultaneamente difíceis e prazerosos. Pequenas, aparentemente ínfimas, as mudanças começaram a surgir.

A razão da minha crença no amanhã, no futuro, repousa na certeza de que só a mudança poderá patrocinar o melhor para todos. Pode parecer um obsoleto pensamento comunista, mas na verdade é um movimento interno, de mente e de alma, que busca mostrar aos patrícios letárgicos a anarquia que os corroi sem parar, que consome de maneira incansável a dignidade de uma nação acéfala e sem rumo. Decidi, então, fazer do desejo maior uma verdade de todos. Mudar, sempre e coletivamente.

A primeira mudança ocorreu em 2001, no local onde tudo começou. Saiu uma tremenda bagunça física, entrou o concretismo abstrato de um projeto longo e ousado. Um projeto verdadeiramente sem fim. Com muito esforço e incontáveis gotas de suor, aquele reles e abandonado quartinho, que durante anos serviu como depósito de quinquilharias, ganhou contornos de realidade. Esmaecida, a bagunça passou a exibir o viés da resistência ideológica do novo inquilino. Naquele mínimo espaço consegui instalar com folga o mais gigante dos meus sonhos. Com sinceridade, o meu único sonho. Mudar o Brasil. Para muitos, um sonho irresponsável. Para mim, o desejo possível de mudar.

No país onde brota “sem-tudo” em cada esquina, a cada minuto, um sem-diploma é alijado dos direitos cidadãos apenas porque é tido como desconhecedor da ética. Jamais se teve notícia que um canudo acadêmico serviu de invólucro para cápsulas de ética. E foi exatamente isso que me levou a insistir no sonho de lutar, de mudar. Mas a bagunça maior ainda estava por vir. A mentira da notícia, a manipulação antiética da informação. E enfrentá-la será a tarefa do sempre. Até porque, se para os teóricos de plantão o capitalismo é selvagem, para os realistas minuciosos o canibalismo grassa em muitas das entranhas do universo midiático.

Fazer da verdade da notícia o caminho perene da mudança não é tarefa das mais suaves. Muitos foram os ataques patrocinados pelos incomodados, mas resistimos bravamente. Mesmo que naquele momento agisse sozinho, jamais entendi como sendo uma luta solitária. Lutar em nome dos brasileiros me deu a sensação – e essa responsabilidade prazerosa continua – do coletivo. Eis a razão de ter adotado, desde o início, a primeira pessoa do plural. Nós. Eu, meus sonhos, os desejos e necessidades de cada brasileiro… O pluralismo singular, que de chofre encarnei, serviu como mestre de cerimônias para os parceiros que aderiram à realidade de um sonho que jamais será propriedade privada. Afinal, só é possível pensar coletivamente, na primeira pessoa do plural. Um plural tão imenso quanto a nossa “pátria amada, idolatrada, salve, salve”.

Foi então que a “loucura” de um transformou-se em “bando de loucos”. Foi chegando gente de todas as partes e de todos os jeitos. Catarinense que esparramou talento na terra do cuxá, paraense ribeirinha que com galhardia desafia diuturnamente a Corte. Paulista que fotografa um pingente de trem chamado Brasil – sempre em risco e igualmente diferente –, cigana que faz das letras de hoje a leitura da mão do amanhã. Quilombola que carrega no embornal da fé o escudo do cotidiano, náufraga do Aricanduva que como Shakespeare enfrenta os capítulos de uma existência típica de Nelson Rodrigues. Espanhola que faz do nosso muro das lamentações a prancheta da mudança, beduíno que transforma as sonâmbulas mil e uma noites em trincheira coletiva.

Por necessidades próprias, alguns lamentavelmente desceram do bonde. Por sorte, deixaram marcas, ideias e ensinamentos. Muitos continuaram nos trilhos desse sonho de mudança. Outros chegaram, outros mais hão de chegar. Lidar com a verdade da informação exige ousadia, paixão, coragem e perseverança. Nessa alquimia do impossível, dois ingredientes são imprescindíveis: experiência e entusiasmo. Algo que conseguimos reunir em uma equipe que tão bem miscigena arrojo e responsabilidade.

Nessa trajetória de luta, apenas um medo trouxe preocupação. A possibilidade iminente de interrupção de um sonho restrito ao “eu”, mas que passou à condição de necessidade do “nós”. Durante anos a fio, conviver com o fantasma do fim do sonho foi um dos mais duros fascículos do cotidiano. Mas a vida, como sempre, presenteia os perseverantes com surpresas agradáveis. O homem tem fim, mas seus ideais devem ser eternos.

Já não mais refém do medo que o ponto final vez por outra nos impõe, vivo a contemplar as corajosas reticências de um sonho que sorverá no entusiasmado talento dos que chegaram. Chegaram para somar, é verdade, mas é preciso reforçar a tese de que a melhor das multiplicações é a divisão. Quanto mais se divide, mais se multiplica. Foi no vácuo dessa adição divisional que encontramos o melhor momento para novamente mudar. Mudamos em respeito a cada um dos nossos diários leitores, em homenagem à verdade da informação. Mudamos pela ordem, pelo progresso.

A partir hoje, mais do que nunca, o ucho.info é seu. É dos que se despediram, mas que durante algum tempo participaram do sonho que virou realidade. É dos que sempre externaram apoio e confiança. É dos que desde o início nos brindaram com o talento literário. É dos que chegaram depois e me pouparam da solidão. É dos que aqui escrevem sempre e dos que não escrevem mais. É dos que nos atacaram, mas principalmente dos que tiveram coragem de sobra para nos defender. Enfim, o ucho.info é de todos nós. É da nossa gente, é desse continente fantástico chamado Brasil!

O Editor