Psicóloga alerta sobre as consequências da exposição excessiva de crianças à televisão
(*) Ana Carolina Castro
Pesquisadores de diversos países tem se preocupado com o tempo que as crianças passam em frente à televisão. Verdade é que, com os pais trabalhando fora, muitas crianças passam o dia sem outra opção de lazer se não a televisão, mas o que desperta interesse são as consequências desse tempo elevado de exposição frente à telinha. Um estudo realizado em 2008 por pesquisadores da Universidade de Massachusetts nos Estados Unidos analisou o comportamento de 50 crianças enquanto brincavam. Publicada na revista cientifica Journal of Child Development a pesquisa afirma: “A televisão ao fundo atrapalha o comportamento na hora de brincar em crianças novas, mesmo quando elas prestam pouca atenção à tela”.
Durante o tempo em que o aparelho permaneceu ligado, as crianças, com idade entre 1 e 3 anos, passavam apenas 5% do tempo olhando para a tela. No entanto, notou-se que brincavam por menos tempo e se concentravam menos em cada brinquedo. O resultado do estudo sugere que deixar a televisão ligada, mesmo que a criança não esteja assistindo, seja prejudicial para seu desenvolvimento. Isso ocorre pois o aparelho serve como fonte de distração constante e impede a criança de se concentrar enquanto brinca. Algumas escolas tem se preocupado com essa situação e criado iniciativas a respeito. A Escola Stance Dual, em São Paulo, integra esse time. Desde 2007 a escola adotou o Dia de Desligar a TV, que esse ano foi em 18 de junho. Como preparação para esse dia, durante algumas semanas os alunos são estimulados a debater sua relação com a TV.
Giovana Del Prette, psicóloga no Paradigma – Núcleo de Análise do Comportamento, em São Paulo – adverte sobre os males que uma exposição exagerada à televisão pode gerar, e explica quais as atitudes que os pais devem tomar.
– Por que assistir televisão em excesso é prejudicial para crianças?
Um dos maiores problemas do assistir televisão é a passividade dessa atividade. Assistir televisão não promove a construção do conhecimento pela criança, não a instiga a explorar, descobrir e criar, porque a informação é, na maioria das vezes, apresentada pronta. O segundo problema é a qualidade das informações transmitidas. Muitos desenhos animados são violentos, novelas apresentam conteúdo impróprio para crianças, comerciais de televisão instigam desde alimentação inadequada a consumo exagerado. A maioria dos canais, especialmente da TV aberta, está preocupada com a manutenção da audiência em primeiro lugar, o que não necessariamente é congruente com os valores que a família gostaria de ensinar aos filhos.
– Quais os efeitos desse comportamento no desenvolvimento da criança?
A criança perde a oportunidade de inventar brinquedos, brincadeiras, jogos, conversar, negociar, tolerar frustrações, enfrentar desafios, usar a imaginação – enfim, uma série de habilidades importantes para o seu desenvolvimento.
– Por que as crianças passam tanto tempo em frete à televisão?
Às vezes as crianças passam muito tempo em frente à TV por falta de alternativas de atividades. A situação típica é aquela em que os pais trabalham fora, a cidade é perigosa para a criança circular sozinha e o prédio não tem playground. Por outro lado, muitas vezes os pais oferecem a televisão como forma da criança “dar menos trabalho”, pois fica distraída com a programação e quieta por várias horas. Não é necessário proibir a criança de assistir televisão, mas monitorar quais programas ela assiste e por quanto tempo, além de conversar com a criança sobre o conteúdo veiculado, ajudando-a a formar um senso crítico sobre o que vê. Há canais e programas mais educativos, apropriados para cada faixa etária, e os pais deveriam, eles mesmos, conhecer os programas para avaliar o que permitir e o que proibir.
– O que os pais devem fazer?
É fundamental fazer um arranjo da rotina da criança, programando atividades alternativas ao ver televisão, o que inclui ter jogos em família ou individuais, fazer passeios, ler livros, combinar com colegas da escola para se visitarem regularmente, e até mesmo pequenas responsabilidades na casa, como arrumar a cama ou guardar a louça. Infelizmente, às vezes os pais se mobilizam mais quando a criança está “aprontando” do que quando está entretida e ativa em alguma atividade, o que acaba por reforçar a alternativa de colocá-los para assistir televisão. Para mudar isso, é essencial que eles incentivem e elogiem a criança por fazer suas atividades de maneira independente ao invés de dar broncas quando não o fazem. Isso tudo pode ser feito pessoalmente, com visitas rápidas ao local onde a criança está brincando, pelo telefone quando os pais não estão em casa, e também ao fim do dia, conversando sobre o que ela fez e a ouvindo com interesse.