Carlos Brickmann esclarece a polêmica sobre o diploma de jornalismo

carlos_brickmann_02Com ou sem canudo
Embalados pela ideologia gauche que sempre frequenta o pensamento universitário, alguns gazeteiros de plantão – servis alcatifas do sindicalismo setorial – tentam ao arrepio da lei reverter a recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu a obrigatoriedade do diploma acadêmico para o exercício do jornalismo. Este site respeita todas as linhas de pensamento, mas não endossa a ditadura burra que um grupelho facinoroso tenta impor como forma de garantir o status quo empregatício no qual gravitam. O exercício do jornalismo é fruto de talento e vocação, desde que a ética esteja em norte fixo. Para reforçar o pensamento de toda a nossa equipe de jornalismo reproduzimos abaixo parte da coluna “Circo da Notícia” (Observatório da Imprensa), do brilhante Carlos Brickmann – ele não tem diploma –, na qual o tema é abordado com a incontestável competência que sempre marcou a história de um dos maiores jornalistas brasileiros.

– O curso de Jornalismo perdeu a validade?

Não: a transmissão de conhecimento é sempre útil e aquilo que se aprende é propriedade perpétua de quem o adquiriu. O diploma de Jornalismo vai continuar existindo; quem o tirar continuará tendo registro. Imagine que você tenha aprendido mandarim: isso jamais foi exigido para trabalhar em Jornalismo, mas vai ajudá-lo muito a conseguir um bom emprego e a desempenhar suas funções com eficiência.

– As empresas são obrigadas a contratar quem não fez o curso?

Não: as empresas vão contratar os profissionais que lhe oferecerem o melhor serviço. Se as faculdades de Jornalismo formarem profissionais mais bem qualificados que os que não as cursaram, os diplomados terão a preferência. O que ocorreu foi o fim da reserva de mercado, não a criação de outra reserva.

– As empresas podem contratar quem quiserem?

Sim. Mas, como o mercado é competitivo, as empresas sempre procurarão contratar os profissionais de melhor qualidade. E os que tiverem curso superior, se bem feito, levarão vantagem sobre os que não o tiverem – a menos que o talento e a capacidade de estudo dos que não tiverem curso superior superem a desvantagem da falta de educação formal.

– As empresas vão contratar não-jornalistas para pagar menos?

Não: profissionais como Roberto Muller, Rodolfo Konder, Ricardo Kotscho, Fernando Gabeira, Luís Carta, Ennio Pesce, Nahum Sirotsky, Rolf Kuntz, ou como este colunista, sempre ganharam os melhores salários das diversas redações em que trabalharam, e não têm diploma de jornalista. O cálculo é mais complexo e engloba a relação custo-benefício: profissionais de alto nível custam mais caro, tenham diploma de jornalista ou não, e seu trabalho é habitualmente melhor.

– Para que investi tempo e dinheiro fazendo faculdade de Jornalismo, se o diploma é desnecessário para exercer a profissão?

Para que aprender inglês, espanhol, alemão e japonês se os respectivos diplomas são desnecessários para exercer a profissão de jornalista? Porque acreditam que os conhecimentos que adquiriram são úteis. Mas, se alguém fez uma faculdade daquelas bem maleáveis, no facilitário, apenas para obter o diploma, terá perdido seu tempo e dinheiro. Mas iria perdê-lo de qualquer forma: o mercado de trabalho é competitivo e impiedoso com quem não estuda, formal ou informalmente.

– Qual a consequência do fim da obrigatoriedade do diploma na ética jornalística?

Nenhuma. Ética se tem ou não se tem. Ética não se aprende em cursos superiores. Há canalhas com diploma, há canalhas sem diploma.

– Caem as prerrogativas legais da profissão de jornalista?

Não: o piso profissional, a jornada de cinco horas, o reconhecimento do Jornalismo como profissão diferenciada (mesmo que você trabalhe numa empresa distribuidora de petróleo, continuará sendo jornalista e descontando imposto sindical para o Sindicato dos Jornalistas, não o dos Petroleiros), tudo continua em vigor. Outras prerrogativas já caíram ao longo do tempo (jornalista era isento de Imposto de Renda, pagava metade da sisa, o Imposto de Transmissão Intervivos, tinha 50% de desconto em passagens de avião) e não houve enfraquecimento da profissão.

– Por que outras profissões precisam de diploma e jornalista não? Posso então pleitear um cargo de ministro do Supremo?

Pode. A lei não exige diploma de Direito para ministros do Supremo. As condições necessárias são “notável saber jurídico e ilibada reputação”. Caso o presidente da República (que também não precisa ter diploma de curso superior) o indique e o Senado o aprove, o novo ministro estará nomeado.