Os “burrinhos” e a teoria da borboleta

    (*) Gilmar Corrêa –

    O ano de 2009 terminou com tragédias naturais e 2010 começou contando seus mortos. Foi assim em 2008. E pelo que me sobra de memória, outros anos também tiveram suas vítimas do mau tempo. As festas natalinas se confundem com os dramas familiares.

    No meio do choro, os políticos (raros) ainda que têm alguma coragem aparecem para solidarizar-se. As autoridades se atrapalham em assistir os vivos largados em galpões, em casas de amigos ou em barracas improvisadas. E surgem os especialistas para dar opinião e os fatalistas falam em “revolta da natureza”.

    As tragédias naturais são um alerta de que algo está errado. Seja no clima e, principalmente, na ocupação urbana, no modo de vida, na distribuição da terra. Falar que as leis e o bom senso estão sendo tripudiados é “chover no molhado”.

    Na recente conferência do clima, em Copenhague, os mandatários se comportaram como na fábula dos burrinhos. Para quem não se lembra, puxo pela memória: havia dois montinhos de capim e dois burrinhos. Atados a uma ponta de uma corda, tentavam saborear o pasto. Brigavam para chegar à comida. Depois de muito tempo é que chegaram à conclusão que somente com a colaboração é que poderiam comer o capim sem stress.

    A idiotice dos líderes mundiais, aí incluído o senhor presidente-metalúrgico Lula da Silva, parece ser uma marca. Há “burrinhos” distribuídos por todo o Brasil – nos estados e nos municípios. Sobra hipocrisia. Falta bom senso.

    Sem entendimento fica impossível resolver os graves problemas ambientais nas áreas urbanas e no campo. Os seguidos desastres ainda não fizeram com que as autoridades – em seus diversos níveis – falem a mesma linguagem.

    Antes do fim da conferência da Dinamarca, em dezembro, Sérgio Leitão, diretor de Campanhas do Greenpeace, disse que ia rezar para “Padim Ciço” e acender a lamparina do juízo dos homens para tomarem vergonha na cara e fazerem o que precisa ser feito. O mesmo pedido pode ser feito para as autoridades brasileiras.

    Quase no fim da conferência, Lula da Silva entregava os pontos: “Não sei se algum anjo ou algum sábio descerá desse plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora”. Será que vai faltar inteligência para os brasileiros resolverem os graves problemas ambientais que todo ano provocam mortes e dor? Para me socorrer, lembro o mandatário norte-americano Barack Obama: os países devem tomar “ações imediatas e conjuntas” contra as mudanças climáticas. “O tempo de falar acabou”.

    Difícil não imaginar que o tema ambiental deixará de permear os discursos dos candidatos presidenciais e os candidatos nos estados. Alguns dos pré-candidatos, como José Serra, Marisa Silva e Dilma Rousseff, estiveram em Copenhague. Espero que tenham aprendido alguma coisa, apesar da falta de acordo entre as nações.

    “Precisamos de ações urgentes para fazer com que as emissões mundiais tomem um rumo capaz de manter o aquecimento bem abaixo do limiar aceito de dois graus centígrados, de forma a evitar os riscos inaceitáveis de mudanças climáticas catastróficas”, afirmou Keith Allott, coordenador de mudanças climáticas do WWF-Reino Unido.

    E porque estas recomendações também não servem para nossos problemas ambientais, que são urgentes? Afinal, vivemos numa aldeia onde cada parte se interliga, como no “efeito borboleta”, cuja teoria ficou conhecida pelos escritos do matemático Edward Lorenz, em 1963.