Fracassa a manobra imunda para votar com urgência projeto de legalização dos bingos

Irmãos Metralha – Há ainda no Brasil quem acredita que parlamentares chegam ao Legislativo como representantes da sociedade, quando, na verdade, legislam em causa própria e em favor de seus respectivos partidos políticos.

Há aproximadamente dois meses, um acordo começou a ser costurado na Câmara dos Deputados para que um projeto de lei que beneficia os bingos fosse votado ainda em 2010. Na tarde desta terça-feira (7), seguindo o que foi acordado entre líderes partidários, a Mesa Diretora da Câmara recebeu um requerimento de urgência para que o mencionado projeto fosse votado com celeridade.

No rastro desse acordo, projetos importantes como o da Lei Kandir e o do Super Simples também seria votados. Acontece que o requerimento de urgência foi derrubado, fazendo com que a base aliada entrasse em obstrução. Ou seja, aos políticos brasileiros é muito mais importante garantir o retorno da lavanderia financeira em que se transformou o negócio dos barões dos bingos, do que votar projetos que tratam de compensações fiscais nas exportações e cria uma modalidade tributária que beneficiará milhões de pequenos e médios empresários.

Muito estranhamente, em defesa dos bingueiros sempre aparecem o relator do projeto, deputado Régis de Oliveira (PSC-SP), e o mensaleiro petista José Genoíno. Esse desespero para votar a matéria pode ser facilmente explicado pelas dívidas de campanha que muitos partidos tentam equacionar desde o fim do período eleitoral.

Como é de conhecimento público, o lobby dos bingos ganhou os corredores do Congresso Nacional sob a orientação entusiasmada do empresário (sic) Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido no mundo da jogatina como “Carlinhos Cachoeira”.

Para quem não se recorda, Cachoeira foi um dos protagonistas do primeiro escândalo de corrupção do governo Lula da Silva. Então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, à época comandada por José Dirceu, Waldomiro Diniz cuidava dos interesses de Cachoeira em troca de dinheiro.

Meses depois, o PT encontrou dificuldades para justificar a contribuição financeira de empresários de bingo para a campanha de Antonio Palocci Filho, ex-ministro da Fazenda e atualmente no exercício de mandato de deputado federal por São Paulo.

Com a obstrução anunciada pela base de sustentação do governo de Luiz Inácio da Silva, nenhuma outra matéria será votada nesta legislatura, exceto o projeto do Orçamento Geral da União para 2011, cuja aprovação é fator impositivo para o início do recesso parlamentar.

Para completar a ópera bufa em que se transformou o parlamento nacional, o senador Gim Argello (PTB-DF), que renunciou à relatoria da Comissão Especial do Orçamento, já foi substituído pela senadora Ideli Salvatti (PT), que recentemente tropeçou em sua tentativa de chegar ao Palácio da Agronômica, sede do Executivo catarinense.