Anestesia geral sem mistérios

Tire suas dúvidas e descubra porque o procedimento é hoje extremamente seguro

O primeiro relato de anestesia geral na história é anterior até mesmo à criação da mulher. Segundo consta da Bíblia, no livro do Gênesis, “mandou o Senhor Deus um profundo sono a Adão e tirou uma de suas costelas, enquanto estava dormindo”. Na medicina, a primeira intervenção cirúrgica com anestesia geral data de 16 de outubro de 1846. Por este motivo, inclusive, comemora-se sempre em 16 de outubro o Dia do Anestesiologista.

De lá para cá, a técnica foi evoluindo ao longo dos anos, utilizando substâncias como o protóxido de azoto (N2O), conhecido também como gás hilariante, e o éter. Hoje em dia existem diversos fármacos mais modernos que podem ser indicados para anestesias.

A evolução se deu, principalmente, no efeito que os medicamentos causavam nos pacientes. Aqueles que apresentam propriedades como a facilidade de controlar a duração do efeito anestésico, menor efeito residual e despertar mais rápido ganharam popularidade entre os profissionais.

“Hoje em dia utilizamos três tipos de anestesia geral: a inalatória, a balanceada – que é a mais utilizada – e a endovenosa”, explica o Dr. Alexandre Slullitel, diretor científico da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo (SAESP).

A anestesia geral, explica o médico anestesiologista, é mais utilizada em cirurgias supraumbilicais, cuja incisão é localizada acima do umbigo, como cirurgias do abdômen, do tórax ou da cabeça e pescoço, por exemplo. Isso não significa que cirurgias infraumbilicais não possam utilizar a anestesia geral, ela pode ser utilizada para todo e qualquer tipo de cirurgia, em pacientes de todas as faixas etárias.

Mas no caso de crianças e idosos, por exemplo, há cuidados específicos. Nestes grupos, os medicamentos devem ser ajustados em função das limitações de cada faixa etária.

Riscos e receios

Por se tratar de uma anestesia na qual perdemos a autonomia, e sobre a qual existem diversos mitos e teorias inverídicas circulando entre a população, alguns pacientes acabam ficando receosos ante a informação de que terão de se submeter à anestesia geral.

Dr. Slullitel explica que sempre existem riscos em toda e qualquer intervenção cirúrgica, que estão ligados principalmente às condições clínicas do paciente, à presença de outras doenças (por exemplo, diabetes, infarto, bronquite), à repercussão das medicações anestésicas sobre cada organismo e ao tipo de cirurgia.

“É preciso esclarecer que durante um procedimento cirúrgico, outras substâncias como antibióticos ou anti-inflamatórios são empregadas e estas, por sua vez, podem mais frequentemente causar reações alérgicas de natureza leve do que qualquer outro tipo de agente anestésico”, adverte.

O principal temor dos pacientes ,segundo o médico, é a ocorrência de choque anafilático, cujo diagnóstico é freqüente e erroneamente atribuído a outras intercorrências, gerando insegurança aos pacientes. A perda da autonomia gera expressões como o ‘medo de dormir e não acordar mais’.

Para todos estes medos, a principal orientação do médico é ter uma boa conversa com o anestesiologista antes do procedimento cirúrgico para que ele possa esclarecer todas as dúvidas e informar corretamente ao paciente do que se trata a cirurgia e como será realizado o procedimento anestésico.

O pós-operatório

As ocorrências mais comuns após uma anestesia geral são dores no local da incisão cirúrgica (chamada de dor pós-operatória), náuseas e vômitos, tremores e dor de garganta. Cada um desses efeitos pode ser minimizado, mas nem sempre completamente abolidos.

A dor pós-operatória pode ser controlada com analgésicos potentes administrados por via endovenosa. A técnica de anestesia geral endovenosa, por sua vez, minimiza as náuseas e vômitos, mas pacientes mais suscetíveis a estes fenômenos podem ainda necessitar de medicações específicas para prevenção e tratamento destas condições.

O desconforto na garganta surge devido à colocação de tubos traqueais nas vias aéreas durante a cirurgia. Estes instrumentos possuem um balão cuja pressão interna é passível de regulação. O correto ajuste desta pressão contribui para menor risco de dores de garganta após a anestesia.

Já os tremores, explica o especialista, são consequência da perda da atividade muscular, que gera o calor no organismo, e também pela perda da capacidade do organismo de regular a temperatura. “Além disso, a temperatura no centro cirúrgico costuma ser mantida entre 18ºC e 22°C para a prevenção de proliferação de micro-organismos e para o conforto térmico da equipe cirúrgica”.