Meu presente de Natal: o Brasil sem Lula

    (*) Ucho Haddad –

    Festa cristã, o Natal é um momento único que nem sempre reflete a essência dos outros 364 dias do ano. Diferentemente do ritmo que ganhou no embalo do consumismo, o Natal é a chance que cada um tem para reflexões, mas isso raramente acontece. É nesse dia que alguns poucos conseguem limpar a alma e tornar mais cândido o coração, tendo como pano de fundo uma comemoração que mistura presentes com comilança, sugere humildade e fé e abomina as mentiras.

    Certa vez, minha querida e finada avó ensinou-me que religião, política e futebol são assuntos que não devem ser discutidos ou mesclados em qualquer tipo de colóquio. Que cada um siga as suas convicções, dizia ela. Isso se deu em 1966, quando acompanhávamos pelo rádio a Copa do Mundo de 1966. Lá se vão 44 anos e até hoje trago comigo tal ensinamento. Mesmo com o imenso carinho que ainda nutro por minha saudosa avó, terei de desrespeitá-la – ela há de compreender – para dar seguimento a este texto. Até porque depois de mais de trinta anos dedicados ao cotidiano da política, o tema inevitavelmente transformou-se em uma espécie de religião. Mesmo sabendo que em muitos momentos a política consegue corroer a fé até mesmo dos mais crentes.

    Ser brasileiro é para a extensa maioria um motivo de orgulho, principalmente quando a seleção entra em campo, mas é preciso reconhecer que se trata de uma tarefa diária que exige doses extras de esforço. Em especial quando alguns mentirosos com mandato tentam nos vender aquilo que inexiste. Faltando horas para o Natal, o messiânico Luiz Inácio da Silva resolve fazer concorrência ao mais famoso habitante de Nazaré e fala como se fosse a salvação do mundo. Bobagem das grandes, pois Lula é um oportunista que faz da sua popularidade o combustível para ser conivente com a corrupção.

    Sem abandonar a ópera bufa que encenou nos oito anos anteriores, Lula mente de forma vergonhosa e descarada para ficar na memória da opinião pública como a única solução para os problemas que consomem diuturnamente a nossa querida e amada Botocúndia. Faz aquilo que o Cristianismo simplesmente condena, mas em seus cansativos e boquirrotos discursos sempre fala em Deus. Disse o nosso guia que ao sair da presidência se dedicará à vida das ruas. Mais uma de suas incursões mitômanas, pois é sabido que isso só acontecerá porque seu objetivo é trair a companheira Dilma, por ele escolhida para sucedê-lo no cargo, e voltar ao poder dentro de quatro anos.

    “Nunca antes na história deste país” – assim disse o nosso rei de araque – um presidente abusou tanto do dinheiro público. O que Lula tem feito nos últimos dias é algo típico de ditadores. E ao que parece o presidente-metalúrgico tem uma enorme vocação para o culto à própria personalidade. Dessa história totalitarista confesso que estou cansado, pois combater tão criminoso viés político não é incumbência das mais suaves.

    Companheiro – aqui uso o vernáculo no bom sentido – de todas as horas, o competente jornalista Gilmar Corrêa escreveu que Lula deixará saudade porque de agora em diante não mais teremos discursos utópicos, mentiras de sobra e comparações esdrúxulas. O que serviu para rechear o cardápio dos veículos midiáticos e a imaginação dos escribas tupiniquins. Desde já concordo com Gilmar Corrêa, pois o que o Brasil menos precisa é de um palhaço mentiroso que faz dos goles extras a razão da sua existência. Governar um país com a extensão territorial e a complexidade do Brasil é para poucos e muito bons. E Luiz Inácio da Silva nem de longe tem currículo para frequentar o gueto dos excelentes. Na verdade, ele é o pior exemplar da política que surgiu nas últimas décadas.

    Longe de ser um carola chato e convicto, que bate ponto na sacristia e puxa a batina do padre todos os dias, sou um homem de fé. Não fosse assim, já teria desistido do Brasil e do jornalismo. Sei que dinheiro não traz felicidade, mas saber que Lula nos dará um refresco de pelo menos quatro anos não tem preço. Até recentemente, jamais sonhei com um presente de Natal. Em nenhum momento cobicei isso ou aquilo. Faz parte da minha essência e das duras e preciosas lições que a vida me proporcionou. Mas, de uns tempos para cá, preciso admitir, passei a querer um presente de Natal que parecia impossível, mas o Senhor escutou as minhas preces, pois é assim que está grafado e garantido no missal. E Papai Noel me trará de presente algo que não há laço de fita capaz de embrulhar: 31 de dezembro de 2010.

    Ufa, finalmente ele se vai. Obrigado, Senhor!