No país-sede da Copa de 2014, casas são dragadas pela terra e pessoas morrem soterradas e afogadas

Óleo de peroba – Não demorou muito para o prefeito Gilberto Kassab (DEM), de São Paulo, sair da defesa e partir covardemente para o ataque. Preocupado nos últimos tempos em definir seu futuro político, que pode culminar com o seu ingresso no PMDB, Kassab simplesmente desapareceu nas primeiras horas da enchente que, entre a noite de segunda-feira e a madrugada de terça, transformou a maior cidade brasileira em uma versão tropical de Veneza.

Depois de muitas declarações técnicas, porém estapafúrdias, disparadas por obedientes assessores, Gilberto Kassab voltou à cena política na metade do dia, quando mais uma vez desfiou um cipoal de números e informações para provar a suposta competência de sua administração, não sem antes fazer promessas que já não passam pelo crivo da população.

Como se prometer fosse pouco, Kassab declarou nesta quarta-feira (12) que os moradores das áreas de risco têm consciência de que estão expostos ao perigo, devendo, portanto, buscar moradia em outras regiões da cidade. “As pessoas devem se mudar das áreas de risco. Elas sabem que moram em áreas de risco”, declarou o arrogante Gilberto Kassab.

O palavrório do responsável pela administração da cidade de São Paulo mostra exatamente que aquele candidato amuado por conta do covarde açoite de Marta Suplicy, durante a campanha de 2008, não passou de um personagem produzido pelos marqueteiros de então. Insensível diante da perda de algumas vidas e dos bens de milhares de cidadãos, Kassab abusa da praticidade ao tentar camuflar o fracasso da sua gestão.

Esse não é um privilégio dos paulistas e paulistanos. No Rio de Janeiro, o boquirroto governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) novamente se escondeu diante da tragédia que se abateu na Região Serrana do Estado, marcando para quinta-feira (13) uma visita à cidade de Teresópolis, onde 48 pessoas morreram e centenas de casas foram destruídas por causa do deslizamento de terra. O prefeito da histórica cidade, Jorge Mário, decretou estado de calamidade pública.

Em Nova Friburgo, também na Região Serrana fluminense, três bombeiros morreram soterrados durante uma tentativa de resgate de vítimas. Em Petrópolis, um casal de idosos também morreu. NA região, o número de mortos já passa de 80.

Mesmo com os trágicos acontecimentos nos dois mais importantes estados do País, assim como acontece em outras unidades da federação, os brasileiros continuam acreditando nos discursos mitômanos e ufanistas de alguns políticos, que insistem em dizer que o Brasil está apto a sediar eventos da magnitude da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. É simplesmente inadmissível, para não dizer que é um ato criminoso, gastar o dinheiro público em obras faraônicas para abrigar dois eventos esportivos, enquanto pessoas inocentes e desassistidas são vítimas da incompetência dos governantes.

Quando estavam em campanha pela reeleição, Gilberto Kassab e Sérgio Cabral Filho certamente foram cabalar votos nas áreas por eles abandonadas e hoje destruídas. Eis o triste retrato do Brasil, um país de todos os alarifes.