Zero de coerência – Cobrar coerência do Partido dos Trabalhadores é mero exercício de retórica. Dois fatos recentes mostram como a agremiação partidária mudou para pior. Mantém um discurso para a mídia, mas a prática revela seu lado mais pragmático. No site do PT há uma extensa matéria sobre a mobilização das centrais sindicais a favor do salário mínimo de R$ 580. No Congresso Nacional e no Palácio do Planalto, as lideranças afirmam que aumentar o mínimo é comprometer as contas públicas e a Previdência Social.
O texto publicado nesta terça-feira (18) destaca afirmação do secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores, Quintino Severo. A CUT, como se sabe, é o braço sindical do PT e do Palácio do Planalto. Severo afirma que a manifestação desta manhã na Avenida Paulista, em São Paulo, “é uma estratégia unificada das entidades para brigar pela manutenção da política de valorização do salário, responsável por melhorar a distribuição de renda, combater as desigualdades sociais e fazer com que mais de 30 milhões de pessoas melhorassem de classe social”.
Contra o discurso do governo, o próprio PT observa que de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o aumento acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) foi de 6,47%. O aumento de R$ 510 para R$ 545, anunciado pelo ministro Guido Mantega, “apenas contemplaria a variação desse índice e não contemplaria uma elevação real”.
Para o secretário-geral da CUT, é importante ainda que os trabalhadores aposentados com vencimentos superiores ao piso tenham a elevação de ao menos 80% do que será dado ao salário mínimo, já que representam um fator importante para que a economia brasileira mantenha o sólido crescimento. Outro ponto de discórdia é a correção da tabela do imposto de renda, sem a qual os acordos conquistados pelas categorias durante as campanhas salariais são anulados, já que o trabalhador mudará de alíquota de contribuição e pagará mais ao Leão.
Quando esteve na oposição aos governos anteriores à administração Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores cobrava coerência e moralismo. No comando da República, parece que a ética também tem outros valores. Em desrespeito à tragédia que matou até agora mais de 700 pessoas no Rio de Janeiro, o PT avisou que não adiará a festa dos 31 anos de fundação da agremiação.
Programado para o dia 10 de fevereiro, o rega-bofe ocorrerá na esteira do ajuste fiscal petista. Com uma dívida de R$ 27,7 milhões, de um total de R$ 177 milhões gastos durante a campanha, o PT está no vermelho e planeja uma festa mais modesta do que a realizada em 2010, quando comemorou três décadas e realizou seu 4.º Congresso.
Como lembra o jornalista e blogueiro Luís Cardoso “para quem protagonizou o mensalão, os desvios nada republicanos, as brigas intestinas, a luta agora desigual para abocanhar cargos, nada interessa. O resto é festa, que deve contar com as presenças de Dilma Rousseff e do seu guru Lula da Silva”.