Ex-ditador Baby Doc retornou ao Haiti no vácuo de operação planejada e com ajuda internacional

Silêncio estranho – Há dias, a imprensa internacional, incluindo a do Brasil, deu largo espaço ao retorno do ex-ditador Jean-Claude Duvalier, conhecido como Baby Doc, ao Haiti, após vinte e cinco anos de exílio na França. Baby Doc é acusado de desviar centenas de milhões de dólares dos cofres públicos, inclusive de obras sociais, e de perseguir, torturar e matar opositores durante o período em que governou o pobre país caribenho.

Depois de se instalar em um hotel da capital Porto Príncipe, na companhia de familiares e assessores, Duvalier foi levado por policiais à presença de um juiz, que informou ao ex-ditador sobre as investigações que apuram os crimes por ele cometidos entre 1971 e 1986.

Na última semana, a reportagem do ucho.info conversou informalmente com representantes do governo haitiano no Brasil,o que nos leva a preservar os respectivos nomes. Durante a conversa ficou evidente que Baby Doc não voltou ao Haiti para ser processado e impedido de deixar o país enquanto durarem as investigações. De igual maneira, o ex-ditador não retornou ao Haiti para pedir perdão ao povo e se redimir dos erros do passado. Até porque, dificilmente alguém troca uma liberdade dourada, desfrutada em uma mansão à beira do mar Mediterrâneo, por um cenário complexo e que pode acabar em condenação e prisão.

Na recente história internacional, quem quebrou essa teoria quase unânime foi o britânico Ronald Biggs, protagonista do espetacular assalto ao trem pagador, que deixou o exílio no Brasil de livre e espontânea vontade para enfrentar as garras da Justiça da Inglaterra.

De acordo com um dos nossos interlocutores, Duvalier retornou ao Haiti no rastro de uma operação muito bem planejada e que conta com o apoio dos governos da França e dos Estados Unidos. E se o relato ouvido pelo editor do ucho.info for procedente, há algo muito estranho por trás do repentino “bom-mocismo” do facínora que comandou com mãos de ferro os “Tonton Macoute”, polícia armada do governo haitiano que aterrorizou a população por mais de duas décadas.

Coincidência ou não, a Secretaria de Estado dos EUA, Hillary Clinton, desembarcou no domingo (30) no Haiti, onde pretende cobrar das autoridades locais a imediata adoção das recomendações feitas pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para solucionar o impasse político decorrente da conturbadas eleição presidencial, que parou no primeiro turno e ainda não conseguiu definir quem será o próximo presidente do país. Diante do entrevero político que domina o Haiti, que para piorar ainda mais foi parcialmente devastado em 2009 por um forte terremoto, o segundo turno da corrida presidencial foi adiado sem data para acontecer.