Barril de pólvora – O levante popular que toma conta do Egito desde a última sexta-feira (28) e exige a renúncia imediata do presidente Hosni Mubarak, há trinta anos no poder, decorre de um descuido de longa data por parte das autoridades internacionais, que durante esse período endossaram a ditadura civil instalada na terra dos faraós. Os protestos nas principais cidades egípcias surgiram no vácuo da manifestação que derrubou recentemente o presidente da Tunísia, vítima da união do povo e dos modernos meios de comunicação, como as redes sociais.
Mubarak, que pretendia transferir em breve o poder ao filho Gamal, foi obrigado a dissolver o governo e fazer mais concessões às forças militares, que por enquanto lhe dão a garantia de continuar no poder. Mas essa situação pode mudar, pois militares menos graduados têm sofrido com a crise econômica do país e já começam a se juntar à população rebelada. Hosni Mubarak decretou toque de recolher nas cidades (Cairo, Alexandria e Suez) que abrigam os manifestantes – o horário foi ampliado no domingo (das 15h às 8h) –, mas a população não está respeitando a ordem presidencial.
Governantes ocidentais, que acreditavam ser a ditadura de Mubarak uma garantia de paz no Egito, agora se preocupam com os possíveis desdobramentos dos protestos populares. Se os líderes religiosos muçulmanos mais radicais decidirem pegar carona na manifestação, o Oriente Médio tende a explodir. Razão pela qual os israelenses têm perdido o sono nos últimos dias. Prova disso é que na sexta-feira, quando deixavam as mesquitas após as orações, muçulmanos egípcios engrossaram as fileiras de manifestantes.
Atenta aos desdobramentos no Egito, a Casa Branca continua apoiando Mubarak e rechaçando qualquer tipo de negociação com os opositores, que escolheram Mohamed ElBaradei, Prêmio Nobel da Paz, para negociar com o governo egípcio. Até então em prisão domiciliar, ElBaradei desrespeitou a ordem e foi ao encontro dos manifestantes concentrados na Praça Tahir, no Cairo, centro dos protestos contra o presidente Hosni Mubarak. Diante de milhares de egípcios revoltados, Mohamed ElBaradei fez um discurso contundente e desafiador, garantindo que a “mudança chegará”. “Vocês reconquistaram seus direitos e o que começamos não pode ter volta. Temos uma demanda principal – o fim do regime e o começo de um novo estágio, um novo Egito”, afirmou ElBaradei.
É preciso lembrar que enquanto o impasse avança para o seu quarto dia, Coalizão Nacional por Mudança, liderada pela Irmandade Muçulmana, ganha força e apoio de grupos religiosos extremistas de outros países, o que pode mandar a já frágil estabilidade do Egito pelos ares. Diante do impasse, Mubarak só tem duas saídas: ou deixa o poder ou manda o Exército para as ruas.