Estranha operação para salvar o Panamericano foi financiada pelos juros altos pagos pelo consumidor

Mal contado – A venda do fraudulento Banco Panamericano, agora sob o guarda-chuva do grupo BTG-Pactual, pode entrar para a história como a mais obscura e ininteligível negociação do século. Tudo regado ao som do velho e conhecido bordão televisivo de Silvio Santos, antigo dono da instituição, “quem quer dinheiro?”.

Quando um rombo bilionário, classificado pelos mais conservadores como fraude contábil, chegou ao conhecimento público, o Panamericano tinha um desfalque no caixa de R$ 2,5 bilhões. Foi então que Silvio Santos, o apresentador com larga experiência em encenações diante das câmeras, emprestou ao empresário Senor Abravanel aquele semblante de maior abandonado. Foi assim, com jeito de marido traído, que Senor – ou Silvio, como queiram – arrancou do Fundo Garantidor de Crédito os R$ 2,5 bilhões que o banco precisava para não naufragar.

Semanas mais tarde, uma nova avaliação apontou que o rombo inicial, após doses de fermento, saltara para R$ 3,8 bilhões. E o que foi antecipado pelo ucho.info por ocasião do escândalo acabou de fato acontecendo. Para salvar o patrimônio, inclusive o SBT, Silvio Santos só tinha uma saída. Entregar o banco para gente do ramo. E foi exatamente o que aconteceu na noite da última segunda-feira, 31 de janeiro, quando o BTG-Pactual surgiu em cena na condição de novo controlador do Panamericano. Tudo muito bem, pois no mundo dos bilhões as pendengas são resolvidas diferentemente do que ocorre no boteco da esquina.

O mais estranho nessa história é que Silvio Santos manteve o patrimônio, escapou de uma investigação policial sem precedentes e não colocou a mão no bolso. Ao deixar a sede do Pactual, Silvio disse que nada mais devia ao Fundo Garantidor de Crédito. Ao mesmo tempo, os donos do BTG-Pactual afirmaram que não assumiram qualquer dívida de Silvio ou do Panamericano.

Ao sacramentar a venda do Banco Panamericano, o experiente Senor Abravanel deu ao FGC a garantia de que o Pactual pagará a dívida até o ano de 2028, com juros módicos e pré-fixados. O Fundo Garantidor de Crédito abriu seus cofres e desembolsou R$ 3,8 bilhões para salvar o Panamericano, mas o valor da dívida não é de fato esse. Se o BTG-Pactual decidir quitar o carnê antecipadamente, a dívida cai para R$ 450 milhões, valor que emoldurou a negociação. Se for quitada no prazo combinado, em 2028, a dívida terá o valor contratado, ou seja, R$ 3,8 bilhões.

Como o mercado financeiro não é casa de caridade e banqueiro não tem vocação para monge tibetano, há algo muito estranho por trás dessa história que pode levar o Fundo Garantidor de Crédito a arcar com a diferença de R$ 2,35 bilhões.

Todos sabem que no Brasil não há juros decrescentes, o que leva a concluir que a operação de salvamento do Panamericano foi financiada com o dinheiro pago, em forma de juros extorsivos, pelo incauto que bate à porta do banco para tomar um empréstimo. Mas tudo é possível na terra onde um messiânico embusteiro ousou afirmar, certa vez, “nunca antes na história deste país”.