Votos dados a Mabel na disputa pela presidência da Câmara mostram que Dilma não terá vida fácil

Telegrama falado – A eleição do gaúcho Marco Maia para presidir a Câmara dos Deputados nos próximos dois anos traz, nas entrelinhas da vitória, um recado no mínimo preocupante, desde que contemplado a partir dos costumeiros interesses do Palácio do Planalto.

Quando acionou o rolo compressor palaciano para garantir o triunfo do companheiro de legenda, a presidente Dilma Rousseff contou com os votos da base aliada, que na Câmara tem 388 integrantes. Considerando que Marco Maia, que até então dirigia a Casa legislativa no vácuo deixado pelo agora vice-presidente da República Michel Temer, se manteve no cargo com o apoio dos partidos de oposição (PSDB, PPS e Democratas), os 375 votos conquistados pelo petista nas urnas mostram que a base aliada não é tão fiel como se imaginava.

A tese de que o governo de Dilma Rousseff terá problemas sérios em seu convívio com o parlamento está à mostra nos 106 votos conferidos ao deputado Sandro Mabel (GO), que por manter candidatura avulsa à presidência da Câmara pode acabar expulso do Partido da República. Os dirigentes do PR fizeram a ameaça antes da eleição, mas o resultado das urnas pode acelerar o processo, pois o partido, que tem o Ministério dos Transportes, não quer pagar a conta pela ousadia de Mabel.

A debandada de alguns parlamentares na direção de Sandro Mabel reflete a insatisfação de petistas e peemedebistas da Câmara, não contentes com a distribuição de cargos no primeiro e segundo escalões do governo federal. No caso do PMDB a possibilidade de uma intifada cresce a cada dia, pois em alguns dos ministérios dirigidos pelo partido, o PT palaciano bateu o pé e acabou indicando os respectivos secretários executivos, cargo que na Esplanada dos Ministérios funciona como uma espécie de ministro de fato.

Nas próximas semanas o convívio de Dilma Rousseff com a Câmara dos Deputados não será dos mais fáceis. Há, além da insatisfação de muitos, onze medidas provisórias à espera de votação e uma pressão cada vez maior para que a Casa inicie o processo para as reformas política e tributária, dois assuntos que o Palácio do Planalto não quer nem mesmo cogitar.