Fragilizado, Hosni Mubarak resiste no Egito, mas sua teimosia pode mandar o Oriente Médio pelos ares

Rastilho de pólvora – Conhecido por seu obsessivo apego ao poder, o presidente egípcio Hosni Mubarak já apresenta seguidos sinais de fraqueza política. Doente, Mubarak, 82 anos, descartou no começo da semana a possibilidade de reeleição, mas disse que só deixaria o comando político do Egito ao final do seu mandato, em setembro. De igual modo, Hosni Mubarak negou que seu filho mais novo, Gamal Mubarak, comandante da guarda presidencial, assumiria o poder.

Nesta sexta-feira (4), Mubarak deixou transparecer mais um sinal de sua debilidade política à frente do comando do Egito. O presidente disse estar cansado do poder, o que deve ser encarado como um atalho para que ele tome a decisão de renunciar, evitando a sua expulsão do país. Mubarak, no contraponto, alega que sua saída no atual momento pode gerar uma séria instabilidade na terra dos faraós.

Liderando a revolta popular que pode se alastrar pelo mundo árabe, a Irmandade Muçulmana fixou esta sexta-feira como prazo final para a saída de Mubarak do poder e do país, o que pode acontecer com o recrudescimento da pressão exercida pelo povo, que está concentrada na Praça Tahir, no centro do Cairo, e tenta se aproximar do palácio presidencial. O caminho até a sede do governo conta com várias barreiras, formadas por tanques blindados e cercas de arame farpado. No caso de os populares conseguirem ultrapassar as tais barreiras, um confronto entre os rebelados e a truculenta guarda presidencial seria inevitável, o que provocaria um enorme derramamento de sangue e complicaria ainda mais a situação do teimoso presidente.

A Irmandade Muçulmana anunciou que aceita negociar com um eventual governo de transição, cujo comando seria entregue ao atual vice-presidente Omar Suleiman, que é visto pelos oposicionistas como um político de pouca expressão e suscetível a pressões dos situacionistas. O governo de transição, que nos bastidores já conta com o apoio da Casa Branca, duraria até o próximo mês de setembro, quando acontecem as eleições no país do norte da África.

Como têm insistido os jornalistas do ucho.info, a teimosia de Hosni Mubarak em não renunciar imediatamente pode desencadear um processo de contaminação revolucionária em todo o mundo árabe, o que levaria o Oriente Médio á uma explosão social turbinada pelo fanatismo religioso que impera no Islã. Por enquanto, a Irmandade Muçulmana vem liderando o movimento apenas com o viés político, mas o enxerto de teorias religiosas entre os revoltosos é cada vez mais possível.

Tal possibilidade se materializou nas primeiras horas desta sexta-feira, quando o líder máximo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse que o movimento revoltos que marca o mundo árabe é consequência da Revolução Islâmica, que em 1979 derrubou o governo do xá Mohammad Reza Pahlavi (aliado dos EUA) e permitiu a volta de Ruhollah Mousavi, o ultra radical aiatolá Khomeini, ao Irã.

Ali Khamenei certamente exagerou na declaração, pois mesmo a Irmandade Muçulmana liderando a rebelião no Egito, a manifestação conta não apenas com seguidores do Islã, mas com católicos e adeptos de outras correntes religiosas. Mas tal situação não impede que a partir do Cairo uma onda radical, camuflada pela crença no Islã, se propague pelo mundo árabe e promova a derrubada de outros governantes. As palavras de Khamenei encontram guarida na recente queda do presidente da Tunísia, general Zine El Abidine Ben Ali, que fugiu do país e teve seus ativos financeiros congelados, até então confiados a bancos internacionais.

Outra estaca que dá sustentação ao discurso do aiatolá iraniano é a difícil situação que enfrenta o presidente do Iêmen, o mais pobre país do mundo árabe. Há 32 anos no poder, Ali Abdullah Saleh garantiu na última quarta-feira (2) que não disputará a reeleição em 2013, como não entregará o poder ao seu filho Ahmad, que atualmente dirige a guarda republicana. Mas a sua ejeção do poder é uma questão de dias.

Quem também bambeia nesse turbilhão que atinge o mundo árabe é Abdullah II bin al-Hussein, rei da Jordânia. As chances de Abdullah II ser arrancado do trono são pequenas, mas para que isso não aconteça é preciso que o nobre jordaniano promova imediatas mudanças no modelo político do país. Do contrário, Abudullah II e sua bela Rania Al-Yasin, que circula pelo mundo com desenvoltura, elegância e sabedoria, serão obrigados a procurar um novo endereço.

Enquanto os próximos capítulos dessa onda que chacoalha o mundo árabe não acontecem, os Estados Unidos agem rapidamente nos bastidores para acelerar a saída de Hosni Mubarak e evitar uma tragédia maior, uma espécie de tsunami revolucionário que mesclaria insatisfação popular com fé religiosa. Além disso, o presidente Barack Obama trabalha intensamente para que o mais importante aliado dos EUA na região, Israel, não sofra consequências, o que deflagraria uma guerra na mais inquieta porção do planeta.

Independentemente do que venha a acontecer nos próximos dias, é preciso salientar que desse movimento que ganhou força nas ruas da cidade do Cairo surgiu uma nova situação, que para alguns passa a ser preocupante. A questão palestina obrigatoriamente terá de ser tratada pelos ditames democráticos, pois até então foi ignorada graças às alianças do Ocidente com ditaduras espalhadas pelo Oriente Médio.