Corte no orçamento federal é missa encomendada que começou a ser planejada na era Lula

Cortina de fumaça – O corte de R$ 50 bilhões no orçamento de 2011 do governo federal, anunciado na quarta-feira (9) pelos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento), está mais para uma planejada ação de marketing do que para um conjunto de medidas com o estrito objetivo de promover ajuste fiscal e ajudar no combate à inflação.

Com a decisão, a presidente Dilma Rousseff passa à sociedade uma aura de austeridade, mas é preciso analisar com profundidade a extensão das medidas anunciadas para se chegar à realidade. Na feitura do orçamento da União para o corrente ano, que aconteceu em 2010, o Palácio do Planalto, sob o comando de Luiz Inácio da Silva, enxertou um inchaço de aproximadamente R$ 20 bilhões, pois já previa tempos difíceis na estreia de Dilma no poder. Por conta dessa manobra, o corte anunciado cai de chofre para R$ 30 bilhões, como noticiou o ucho.info na edição de quinta-feira (10).

Outra medida que minimiza o corte anunciado é a decisão postergar os chamados restos a pagar, compromissos do governo federal que não foram honrados no exercício de 2010. Nessa rubrica de “restos a pagar” estão inclusos os investimentos em obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Em outras palavras, o que a gestão Lula não conseguiu honrar no último ano do mandato do ex-presidente será colocado na última gaveta da administração da neopetista Dilma Rousseff.

O anúncio de suspensão temporária de concursos públicos é outra medida polêmica e de grande repercussão junto à opinião pública, mas de poucos efeitos práticos. Fosse o governo de Dilma Rousseff tão bem intencionado quanto o alarde feito por muitos dos aliados palacianos, o Planalto promoveria a desaparelhamento da máquina federal, hoje infestada por companheiros e apaniguados, colocando em seus lugares profissionais competentes e concursados.

O grande perigo desse pirotécnico anúncio está em uma medida de pouco resultado financeiro, mas que pode promover uma rebelião política sem precedentes. Trata-se do anunciado corte nas emendas parlamentares, decisão que certamente provocará estragos políticos nas bases eleitorais dos parlamentares. Como os políticos já trabalham com os olhos voltados para as eleições de 2012 e 2014, reduzir as emendas individuais de deputados e senadores será um tiro de canhão no pé do governo Dilma, principalmente porque o Palácio do Planalto depende desde já da aprovação de uma série de matérias no Congresso Nacional.

Mas isso pode ser mais uma armadilha palaciana, que levariam os parlamentares a uma romaria ao Palácio do Planalto. Diante dos apelos desesperados, o Planalto liberaria as emendas a reboque de um escambo para contemplar os interesses do governo no Congresso.

A presidente pode até querer aparecer bem na foto, mas governar a ferro e fogo um país dominado pelo fisiologismo político exige lampejos de sabedoria, visão de futuro e jogo de cintura. Do contrário, Dilma não demorará muito para se deparar com a crueldade da História. Ou seu período no poder será abreviado, ou sua saída do Palácio do Planalto, daqui a quatro anos, se dará pela porta dos fundos.