Cabeça dura – Depois de uma enxurrada de notícias sobre sua renúncia, Hosni Mubarak fez pronunciamento na quinta-feira (10) e garantiu que continua na presidência do Egito até o final do mandato, em setembro. Mubarak, que novamente contrariou os oposicionistas, revogou um artigo da Constituição local que lhe dava amplos poderes e pediu desculpas aos egípcios pelos seguidos anos de repressão.
A fala de Hosni Mubarak serviu para acirrar os ânimos dos revoltosos, que prometem ocupar a Praça Tahrir, no centro do Cairo, nesta sexta-feira, dia que os muçulmanos reservam para as orações. A expectativa é que a concentração popular ultrapasse a marca de um milhão de pessoas.
Enquanto a crise política do país africano coloca o mundo árabe em estado de alerta, pois é cada vez mais iminente uma revolução religiosa no país, a economia egípcia está sendo corroída pela paralisação de diversos setores e greves que começam a espocar em todos os locais. No Canal de Suez, 100 mil trabalhadores cruzaram os braços, o que provoca reflexos no comércio internacional e na segurança da região.
Como têm insistido os jornalistas do ucho.info, a teimosia de Honsi Mubarak vem abrindo nas últimas duas semanas sucessivos flancos para a entrada do viés religioso na crise que deveria ser apenas política. A oposição egípcia é liderada pela Irmandade Muçulmana, que até o início da revolta popular operava na ilegalidade. Ao chamar para si a responsabilidade de falar pelos egípcios cada vez mais descontentes com o governo a ditadura encabeçada por Mubarak, a Irmandade Religiosa foi a senha que faltava para que radicais lideranças religiosas do Islã, espalhadas pelo mundo árabe, defendessem uma revolução islâmica no Egito, a exemplo da que em 1979 depôs o xá Mohammad Reza Pahlav e permitiu o retorno ao Irã de Ruhollah Mousavi, o ultra radical aiatolá Khomeini.
O presidente egípcio aposta em eventual ação do Exército como saída para a crise, mas o Conselho das Forças Armadas do Egito, cujo presidente é o próprio Mubarak, se reuniu na quinta-feira sem a sua presença. O que pode ser um sinal de que nem tudo deve sair como planeja o ditador que há três décadas comanda a terra dos pretéritos faraós. A saída de Hosni Mubarak do poder é uma questão de tempo, o que deve acontecer por questões políticas ou econômicas, já que o Egito está a um passo de uma grave e incontrolável crise na sua economia.