Após trinta anos no poder, o ditador Hosni Mubarak renunciou à presidência do Egito nesta sexta-feira (11), o que não significa que o país africano mergulhará em uma onda de liberdade e democracia. No período em que esteve no comando do Egito, Mubarak governou com mão de ferro e se valeu de métodos truculentos e repressivos para conter o descontentamento da oposição e da população.
Antes de anunciar que estava deixando o poder, Hosni Mubarak determinou que uma junta militar, monitorada pelo vice-presidente Omar Suleiman, assuma a direção político-administrativa do Egito. Os militares informaram após a renúncia que suspenderão o estado de emergência e que eleições livres e democráticas estão garantidas para setembro. O novo cenário que se desenha no Egito não é tão tranquilizador quanto anunciam as autoridades locais. A oposição continua sob a liderança da Irmandade Muçulmana, o que pode significar uma incursão religiosa extremista em um eventual processo de democratização do país.
Lideranças islamitas têm conclamado a população do Egito a adotar uma Revolução Islâmica, a exemplo da que tirou do poder Mohammad Reza Pahlav, xá da antiga Pérsia e outrora aliado dos Estados Unidos na região. A Revolução Islâmica, que também permitiu o retorno a Teerã de Ruhollah Mousavi, o nada democrático aiatolá Khomein, completa 32 anos e as comemorações tomaram conta do Irã nesta sexta-feira dedicada às orações.
A situação de Hosni Mubarak tornou-se insustentável após pronunciamento feito na quinta-feira (10) em que afirmou que continuaria no cargo até o final do mandato. A squeda de Mubarak era uma questão de tempo, como informamos na manteria anterior, pois além da crise política, o Egito caminhava para uma situação caótica e irreversível na área econômica, pois greves de trabalhadores de diversos setores foram deflagradas nas últimas horas em todo o Egito. No Canal de Suez, por exemplo, 100 mil trabalhadores cruzaram os braços em protesto contra a teimosia de Mubarak. Considerado como região estratégica do ponto de vista comercial e militar, o Canal de Suez poderia tornar-se alvo de atentados, o que comprometeria a segurança na região, em especial no mundo árabe.
Qualquer previsão sobre o que pode acontecer no Egito nos próximos dias é mera especulação, pois as Forças Armadas estavam divididas em relação à permanência de Hosni Mubarak no poder. No rastro da queda do presidente egípcio, que foi flagrado por uma lufada de democracia que começou na Tunísia, outros países árabes podem sofrer processos semelhantes. A próxima vítima desse movimento deve ser o Iêmen, o mais pobre dos países do Oriente Médio. O alcance dessa luta árabe pela democracia pode, dependendo de alguns detalhes, chegar até a Jordânia, onde o rei Abdullah II bin al-Hussein precisa promover mudanças urgentes caso queira continuar no poder.