Sempre alerta – Como sempre acontece, tragédias merecem a atenção da imprensa apenas quando os veículos de comunicação não têm nada mais atrativo e interessante (sic) para noticiar. Do contrário, ou com o passar do tempo, o assunto cai na vala do esquecimento. Seja pelo surgimento de manchetes outras, seja pelo jeito nada democrático com que as autoridades lidam com a imprensa nesses momentos em que a falência do Estado vem à tona.
No caso da tragédia da serra fluminense, a verdade dos fatos tem sido distorcida com o avanço do tempo. O assunto saiu dos meios de comunicação, o que faz com que os atingidos pela força das chuvas se transformem em presas fáceis para o descaso público. O último balanço sobre o capítulo mais trágico das catástrofes brasileiras dava conta que 890 pessoas morreram em decorrência das chuvas e do deslizamento de terra nas principais cidades serranas do Rio de Janeiro.
Diferentemente do que anunciam as autoridades, com direito à supressão de informações, há pelo menos mais mil corpos para serem resgatados entre os destroços que um dia fizeram parte de bairros e cidades. Esse número explica a quantidade de desaparecidos, todos reclamados por parentes. Mesmo diante da dor das famílias, os governos estadual e municipais têm dificultado o acesso às informações oficiais, pois a verdade pode comprometer os futuros interesses políticos de alguns.
Logo após visitar o local da tragédia, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), em consonância com os prefeitos das cidades atingidas, anunciou uma ajuda financeira às famílias que perderam suas casas na avalanche de água e lama, prontamente batizada de “Aluguel Social”. Desde o anúncio, há pouco mais de um mês, nenhuma família desabrigada recebeu um centavo qualquer. De igual modo, as casas que a presidente Dilma Rousseff garantiu que serão construídas em áreas seguras das cidades atingidas continuam com os alicerces fincados no discurso.
Para piorar o caos que se instalou na região, é desoladora e degradante a situação que impera nos abrigos montados às pressas pelas prefeituras para receber os atingidos pela avalanche. Enquanto nada do que foi prometido passa para o campo da realidade e da realização, Sérgio Cabral Filho, que se vale de um sumiço covardemente estratégico e desenhado de acordo com sua necessidade, esquece que os desabrigados não podem esperar.