Rastilho de pólvora – A revolta popular que ameaça apear do cargo o ditador líbio Muammar al-Khaddafi pode ter feito até agora mais de trezentos mortos. Depois da notícia de que teria viajado às pressas para a Venezuela, al-Khaddafi ordenou aos seus aliados a reação imediata aos protestos que tomam conta das principais cidades do país. Embalado por centenas de mercenários, a reação oficial pode convergir para uma guerra civil, como anunciou há dias o filho do ditador.
Nesta terça-feira (22), Muammar al-Khaddafi amaldiçoou os responsáveis pelas manifestações que paralisam a Líbia desde o último dia 15, provocando reflexos no preço internacional do petróleo e causando sérios prejuízos à economia local. al-Khaddafi promete resistir ao levante e disse que como “chefe da revolução” no país, sob o seu comando desde 1º de setembro de 1969, está disposto a morrer em sua terra natal. “Muammar al-Khaddafi é o líder da revolução, sinônimo de sacrifícios até o fim dos dias. Este é o meu país, de meus pais e antepassados”, disse o ditador.
Acontece que a situação de al-Khaddafi caminha na direção da insolvência, repetindo o que aconteceu com o egípcio Hosni Mubarak, pois parte das tropas militares já não cumpre suas ordens e diplomatas começam a pedir demissão e defender a renúncia do ditador.
O grande problema dessa onda de protestos que toma conta do mundo árabe é que o movimento libertário, que começou na Tunísia, seguiu para o Egito, ecoou no Iêmen, foi temporariamente sufocado no Irã, fincou um pé no Bahrein e desembarcou na Líbia, pode ressuscitar nos países muçulmanos a tese de que somente o ressurgimento da Jihad (guerra santa) contra o Estado de Israel poderá conter essa lufada de insatisfação que ainda não empunhou a bandeira da fé.
Que os dias de Muammar al-Khaddafi estão contados todos sabem, mas se nada for feito para que o banimento do totalitarismo em alguns países árabes ocorra de forma minimamente negociada, o Oriente Médio corre o sério risco de ir pelos ares. Tudo porque nos bastidores dessa revolta internacional está a Irmandade Muçulmana, que nas últimas oito décadas se organizou como facção político-religiosa e ultrapassou as fronteiras do Egito e prosperando nos países vizinhos.