Conversa fiada – Abusando da terceira pessoa do singular para não se referir diretamente a si próprio, o coronel-ditador Muammar Khaddafi, que resiste à pressão popular na Líbia, faz neste momento, em Trípoli, um discurso aos seus apoiadores e partidários.
O pronunciamento de Khaddafi acontece no dia em que se comemora o 34º aniversário do golpe militar que derrubou a monarquia e estabeleceu o que o ditador líbio prefere chamar de “governo do povo”. Com palavras de ordem e frases feitas, Muammar Khaddafi, cada vez mais isolado na comunidade internacional, disse que a Líbia representa uma exaltação ao poder e à liberdade.
O palavrório do mandatário líbio não reflete a verdade dos fatos, pois mercenários e militares ainda leais ao ditador têm atacado de forma covarde e sanguinária os manifestantes que exigem sua saída imediata do poder. Com boa parte da sua fortuna congelada em diversos países (estima-se que sejam US$ 70 bilhões), Muammar Khaddafi tenta ganhar tempo para equacionar suas finanças no exterior, o que lhe garantiria um exílio dourado.
Desde as primeiras horas desta quarta-feira (2), tropas oficiais, com uso de força e equipamentos militares, tentam retomar o controle de cidades que estão sob o controle dos oposicionistas. O discurso de Khaddafi é absolutamente vazio e inócuo, mas uma reviravolta na situação atual pode representar um banho de sangue na Líbia, uma vez que o país é um conglomerado de tribos que atravessaram os séculos sob a égide do radicalismo religioso.
Preocupado com a possível participação de movimentos libertários vindos de outros países árabes, Muammar Khaddafi enviou destacamentos militares para a fronteira com a Tunísia, país que recentemente assistiu à derrubada do ditador Zine El Abidine Ben Ali. Tal situação que pode desencadear uma onda de violência no norte da África, com grandes chances de se espalhar para o leste, passando pelo já libertado Egito, atravessando o Mar vermelho e contaminando o Oriente Médio na velocidade de um rastilho de pólvora.