Chávez ressurge como querubim e quer esquerdizar o derramamento de sangue na Líbia

Camisa de força – Desde que o homem se organizou em sociedade, muitos buscam explicações para a interferência de países estrangeiros na tentativa de varrer do planeta regimes autoritários. Esse cenário de dúvida e truculência bilateral começou na era das cavernas, mas até hoje não se tem uma resposta definitiva.

Recentemente, algumas democracias, lideradas pelos Estados Unidos, invadiram o Iraque sob o pretexto de que o ex-ditador Saddam Hussein mantinha em segredo um arsenal de armas químicas. Após a invasão, descobriu-se que as afirmações condenatórias de antes eram meras e infundadas suposições. Com o estrago feito, os invasores tiveram de permanecer no Iraque para justificar uma trapalhada sem precedentes. E a saída foi alegar que a democracia no Iraque estava ameaçada.

No rastro da onda libertária que vem derrubando alguns ditadores no mundo árabe, a bola da vez é a Líbia, que há 34 anos é comandada com mão de ferro pelo coronel Muammar Khaddafi. Há dias, a imprensa internacional noticiou que no meio da crise política Khaddafi teria viajado à Venezuela. Ao mesmo tempo em que o Palácio Miraflores, sede do Executivo venezuelano, negava o fato, o coronel-ditador aparecia na rede de televisão da Líbia. O programa levado ao ar pode ter sido gravado com antecedência, mas garantir que isso de fato ocorreu é um risco.

Na tentativa de retomar o controle de algumas cidades líbias que há dias estão sob o comando dos oposicionistas, Muammar Khaddafi tem utilizado a força. Com centenas de mortos espalhados por todo o país, Khaddafi assiste desesperado ao esvaziamento de seu governo, pois muitos de seus outrora aliados mudaram de lado e agora exigem a sua saída imediata. O ex-ministro da Agricultura da Líbia, que deixou o governo recentemente, pediu a intervenção militar dos Estados Unidos. Mas é preciso considerar que uma invasão militar estrangeira não significa que a democracia reinará tranquilamente. Na verdade, a possibilidade de se trocar seis por meia dúzia em um primeiro momento é muito grande. E o sangue que hoje é derramado por um motivo, amanhã aspergirá por outro.

No contraponto, a busca de uma solução pacífica para o conflito que chacoalha o governo de Trípoli parece cada vez mais distante, pois Khaddafi insiste em permanecer no poder ou patrocinar uma matança sem igual. Impedir o derramamento de sangue e o fim de um regime autoritário é missão que cabe à Organização das Nações Unidas, cuja legitimidade foi corroída no vácuo da invasão do Iraque, mas é o único órgão capaz de levar a cabo o consenso da comunidade internacional, mesmo que por lá os palpites de alguns valham mais que os da maioria.

Pegando carona no desespero de Khaddafi, o tiranete venezuelano Hugo Chávez, que se ofereceu para ser o mediador da crise líbia, encontrou a chance de retornar ao noticiário planetário de maneira repentina e intensa. Fato é que Chávez, que reza pela cartilha sanguinária de Havana, cumpre ordens de Fidel Castro para mais uma vez desafiar a Casa Branca e zombar da ONU.

O que os homens de bem não devem permitir é que o sangue dos libertários líbios seja derramado. Não importando se pela direita ou pela esquerda.