Petistas esquecem as críticas à privatização e trabalham em silêncio na concessão de aeroportos

Só o tempo – Quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso deflagrou o processo de privatização das empresas de telefonia, o PT, à época na oposição, promoveu uma gritaria sem precedentes. É fato que a operação foi marcada por suspeitas das mais variadas, mas, como sempre acontece quando o investigado é o dono do poder, nada ficou provado contra os palacianos tucanos. Ou, pelo menos, não quiseram provar coisa alguma. O assunto rendeu de tal maneira, que até mesmo um assunto polêmico, o fatídico Dossiê Cayman, acabou recheando a bem sucedida campanha pela reeleição de FHC. Sempre lembrando que, na opinião dos jornalistas do ucho.info, o Dossiê Cayman foi uma obra de ficção sobre um fato verdadeiro.

Em 2006, quando disputou a reeleição contra Geraldo Alckmin, o messiânico Luiz Inácio da Silva endossou a decisão do PT de espalhar na imprensa e na rede mundial de computadores que, se eleito, o candidato tucano privatizaria a Petrobras, o que era uma enorme inverdade. Lula abusou do neologismo “privataria” para se referir ao processo que transferiu à iniciativa privada o controle das empresas de telefonia e que hoje permitem que cada brasileiro tenha pelo menos um telefone celular, entre tantas outras facilidades, muitas delas ainda longe da excelência.

Não faz muito tempo, por ocasião da escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014, Lula disse que o país promoveria um enorme e inesquecível evento esportivo. Semanas mais tarde, o mesmo Lula chamou de “idiota”, de forma transversa e inominada, o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, que externou sua preocupação com os aeroportos nacionais.

Passados alguns meses, o diretor de Infraestrutura da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Vieira, reconhece que o setor aéreo brasileiro precisa do capital privado, seja para garantir investimentos e seja para consequente melhoria da eficiência do setor. “O setor privado será muito bem-vindo e essa é uma questão que já está fechada. O que terá de ser definido pela nova SAC (Secretaria Especial de Aviação Civil) é como isso será feito”, declarou Vieira, que na última sexta-feira (15) participou de um seminário internacional sobre a concessão de aeroportos.

Diante da necessidade cada vez maior e urgente de investimentos no setor, principalmente em função da Copa de 2014 e das Olimpíadas, o diretor da Anac lembrou que a primeira atitude da recém-criada Secretaria de Aviação Civil será definir o modelo de exploração dos aeroportos brasileiros pela iniciativa privada. “Depois que concedermos [à iniciativa privada], vai ser muito difícil voltar atrás nas regras”, destacou Vieira.

Para irritar os oposicionistas, Lula da Silva criou o bordão “nunca antes na história deste país”, usado inúmeras vezes para fazer referência às suas duvidosas realizações e desqualificar as do seu antecessor, o tucano FHC.

Agora, com os aeroportos brasileiros à beira de um colapso, os petistas descobrem que no país onde a máquina pública foi criminosamente partidarizada, o que tem esgotado os recursos oficiais, somente o capital privado será capaz de solucionar no curto prazo o gargalo sempre crescente que ronda o setor aéreo.

Muito estranhamente, nenhum daqueles ruidosos petistas de outrora, que enchiam a boca para condenar as privatizações, apareceu para justificar a concessão dos aeroportos brasileiros, pois qualquer ação nesse sentido faria o messianismo de Lula decolar para nunca mais voltar.