Nas alturas – Quando bateu o pé e aumentou o salário mínimo para R$ 545, alegando ser esse valor o máximo a que o governo federal poderia chegar em termos de reajuste, Dilma Rousseff não apenas jogou por terra o slogan do governo de seu antecessor, Lula da Silva (Brasil, um país de todos), como atropelou a marca do seu próprio governo, que traz a frase ”País rico é país sem pobreza”.
Considerando que a inflação continua indomável, o aumento concedido ao salário mínimo, que chega mensalmente ao bolso de 20 milhões de brasileiros, já foi corroído há muito. O discurso do atual governo, como o do ex-presidente Lula, contrariou de maneira escandalosa as rumorosas greves que o Partido dos Trabalhadores fez no passado por conta de reajustes salariais.
Para se ter ideia do que representa o salário mínimo vigente, um trabalhador não pode ousar muito na alimentação caso queira passar poucos dias no mês sem dinheiro. Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, os preços de frutas e verduras são impraticáveis para quem recebe os míseros R$ 545.
No maior centro de distribuição de alimentos da América Latina, um trabalhador tem de desembolsar R$ 5 por um abacaxi e outros R$ 6 por uma dúzia de mexerica ponkan. Se esse abusado cidadão sonhar em comer um abacaxi por semana e uma mexerica “ponkan” por dia, ao final de um mês terá gasto R$ 35, o que representa 6,42% do salário mínimo. Se a esse minguado cardápio for acrescida uma laranja por dia, o que pouco representa em termos de nutrição, a conta mensal sobe para R$ 45, o que equivale a 8,26%.
Por ocasião da manobra que garantiu ao Palácio do Planalto a limitação do salário mínimo na casa dos R$ 545, parlamentares petistas, verdadeiros ventríloquos de Dilma Rousseff, garantiram que a partir do próximo ano a situação será diferente e melhor. Como dizia o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, “quem tem fome não pode esperar”. Sendo assim, seguir a orientação petista e deixar para comer em 2012 pode ser tarde demais, não sem antes ser um suicídio com a chancela palaciana.