Revolta dos bombeiros fluminenses deve forçar a retomada da discussão da PEC 300, parada desde 2010

Rastilho de pólvora – Na época em que liderava de forma estridente a oposição, Luiz Inácio da Silva sempre defendeu o direito de greve dos servidores públicos. Os anos se passaram e Lula mudou o discurso logo após chegar ao poder central, onde permaneceu durante longos e quase intermináveis oito anos, período em que blasfemou à vontade.

No último final de semana, muitos brasileiros esperavam de Lula uma manifestação de apoio aos bombeiros militares do Rio de Janeiro, que há meses tentam, sem sucesso algum, negociar com o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) um aumento salarial. Mas o ex-presidente preferiu o silêncio, pois do contrário cairia em desgraça por conta de suas intermináveis promessas.

Atualmente recebendo R$ 950, os bombeiros pleiteiam salário líquido de R$ 2 mil. Por conta da rebelião patrocinada por 439 integrantes do Corpo de Bombeiros, que na sexta-feira (3) invadiram o quartel central da corporação, Cabral Filho determinou a prisão dos revoltosos.

O governador fluminense cumpriu a lei ao ordenar a prisão dos revoltosos, mas errou com largueza ao chamar de “vândalos” aqueles que de maneira justa buscam melhores salários. Que Sérgio Cabral Filho é um incompetente que submerge nos momentos de dificuldades e ressurge fantasiado de gênio quando há uma oportunidade sórdida todos sabem, mas é no mínimo vandalismo do pensamento querer que alguém por míseros R$ 950 arrisque a própria vida para salvar a de terceiros.

O triste episódio do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro acirrará ainda mais a discussão da PEC 300, que cria um piso nacional de salário para policiais e bombeiros militares de todo o País, matéria aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados. O assunto ganhou destaque meses antes das eleições de 2010, mas era sabido que no retorno das atividades parlamentares a matéria cairia no limbo legislativo, principalmente porque o governo federal não tem como honrar a promessa feita por Lula da Silva, que garantiu aos estados a criação de um fundo para o pagamento dos novos salários nos primeiros dois anos.

Diferentemente do que esperavam os policiais, a PEC 300 transformou-se em instrumento de ameaça dos partidos da base aliada, sempre acionado quando o Palácio do Planalto não contempla os interesses dos que trocam a genuflexão política por cargos e favores.