Virou baderna – Confirmando matéria publicada pelo ucho.info na manhã desta quarta-feira (15), deputados e senadores embarcam no próximo final de semana para a capital francesa, onde participam (sic) do 49º Salão Internacional da Aeronáutica e do Espaço (Paris Air Show), que acontece de 20 a 26 de junho no aeroporto parisiense de Le Bourget.
Desde que a nossa reportagem começou a levantar dados sobre o assunto, o clima de constrangimento entre os parlamentares eclodiu inesperadamente, como se tivéssemos acionado algum detonador de explosivos. Presidente da Frente Parlamentar da Defesa Nacional na Câmara, relançada nesta quarta-feira durante almoço em Brasília, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) confirmou que integrará a comitiva que seguirá viagem para a França. Zarattini, que terá a companhia dos deputados Cândido Vaccarezza, Hugo Napoleão e Eduardo Azeredo e do senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP), disse ao ucho.info que o convite partiu do Senado francês, o que não procede.
Na terça-feira (14), a nossa reportagem entrou em contato com a Embaixada da França, em Brasília, que somente hoje confirmou a ida dos parlamentares brasileiros a Paris. Na mensagem enviada à redação, a assessoria de imprensa da representação diplomática sugeriu que os nomes dos convidados fossem checados na Câmara e no Senado. Questionado sobre sua possível ida à capital dos franceses, Vaccarezza disse que na próxima semana viajaria com a família, mas não quis responder se a referida viagem familiar seria para a França.
Na verdade, o convite aos parlamentares brasileiros não partiu do Senado da França, mas de uma associação conhecida como GIFAS (Groupement des Industries Françaises Aéronautiques et Spatiales), responsável pelo custeio das ações de lobby que a indústria aeronáutica do país faz pelo mundo afora. Para provar que o nome do parlamento francês está sendo utilizado de forma leviana e indevida nessa incursão, muitos congressistas brasileiros, integrantes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional, da Câmara e do Senado, alegaram desconhecer o referido convite. Entre os que expressaram estranheza estão o petebista Gim Argello (DF) e o petista Delcídio Amaral (MS).
Tivesse o convite partido do Senado da França, a Casa correlata aqui no Brasil saberia do assunto com a devida intimidade, algo que o ucho.info não constatou. Por outro lado, para confirmar que trata-se de uma operação nebulosa, com o fim de forçar uma definição por parte do governo brasileiro em relação aos caças Rafale, da francesa Dassault, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, comandou em seu gabinete na tarde desta quarta-feira um encontro com os parlamentares que passarão uma semana em Paris, enquanto o Brasil aguarda a aprovação de inúmeras matérias de interesse público que dormitam no Congresso Nacional.
Em conversa com o ucho.info nesta tarde, Jobim, ao ser perguntado sobre sua possível ida à feira de Le Bourget, foi enfático: “Fui convidado, mas não tenho condições de ir. Fui no ano passado”. Sobre a ida a Paris de algum representante da pasta, o gaúcho Nelson Jobim confirmou a participação do brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, e do secretário de produtos de defesa do ministério
Como se sabe, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva confirmou, em 7 de setembro de 2009, ao lado de Nicolas Sarkozy e Carla Bruni, que o governo brasileiro optara pelos caças Rafale, mas o anúncio caiu no limbo do descrédito e acabou sepultado pela presidente Dilma Rousseff, que pode ter desconfiado de algo não muito ortodoxo na compra de aeronaves para a FAB através do Programa FX-2.
Antes que o avião decole rumo à França, Nelson Jobim tem a obrigação de vir a público para explicar as razões que levam um ministro de Estado a posar de guia turístico e organizar uma viagem de políticos brasileiros a uma das mais importantes feiras de aviação do planeta, quando é de conhecimento de todos que os franceses pressionam diuturnamente o Palácio do Planalto para confirmar a bilionária compra.
Fora isso, os parlamentares convidados precisam explicar à sociedade quem são os verdadeiros financiadores dessa luxuosa caravana voadora, cujas despesas em algum momento cairão no bolso do contribuinte brasileiro.