Prisão e soltura de Edmundo mostram a incoerência e a hipocrisia da imprensa nacional

Pé na rua – A prisão de Edmundo Alves de Souza Neto, o outrora “Animal”, serviu durante algumas horas como uma espécie de troféu para a Justiça do Rio de Janeiro, a polícia paulista e a imprensa brasileira. Responsável pela morte de três pessoas e ferimentos em outras três, Edmundo foi condenado em 1999 a quatro anos e seis meses de prisão.

A Justiça do Rio de Janeiro sabia que a lentidão que permeia o Judiciário permitiu a prescrição da pena, mas mesmo assim insistiu na tese da prisão como forma de direcionar os holofotes para um segmento do Estado que está cada vez mais desacreditado. Fora isso, a demora da chegada da polícia fluminense à capital paulista, onde Edmundo foi preso, colaborou com a defesa do ex-jogador, que na tarde de quinta-feira conseguiu um habeas corpus que garantiu a liberdade do atleta queno passado vestiu as camisas do Vasco da Gama, Flamengo, Palmeiras, Corinthians e da seleção brasileira de futebol.

Além da modorrenta velocidade da Justiça, a prisão de Edmundo pode ter ferido os ditames legais, pois a polícia paulista chegou ao flat onde estava hospedado o jogador fora do horário. Não se trata de defender um condenado pela Justiça, mas de cobrar o fiel cumprimento da lei.

O abuso maior ficou por conta da imprensa, que, como sempre, abusou do sensacionalismo. Na edição da manhã de quinta-feira, os apresentadores do telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, mostraram-se indignados por Edmundo não ter explicado a sua decisão de não se entregar à polícia, mesmo sabendo da decisão da Justiça de mandá-lo para a prisão.

Esses soberbos senhores globais precisam manter a coerência – coisa raríssima no jornalismo brasileiro –, pois quando a polícia paulista desbaratou e prendeu um grupo de extermínio ligado a uma conhecida facção criminosa, o pai de um dos jovens se apresentou aos policiais e, no melhor estilo “carteirada”, disse ser diretor comercial de importante rede de emissoras de rádio. Por conveniência, o caso foi devidamente abafado pela imprensa, inclusive pela Vênus Platinada, a exemplo do que acontece de maneira quase corriqueira quando artistas da emissora carioca são presos por envolvimento com drogas.

Entre noticiar um fato e fazer disso uma base de pirotecnia midiática há uma enorme e abissal diferença. Os jornalistas dos principais veículos da imprensa verde-loura deveriam se postar diante do espelho, pois as rocambolescas novelas exibidas nessa tresloucada terra chamada Brasil ensinam ao telespectador o que há de pior. Sem contar que a sensação de impunidade, que ganhou força na era Lula da Silva, percorre o País como rastilho de pólvora.