Fantasmas dos “aloprados” de Mercadante agora voltam a assustar o governo de Dilma Rousseff

(*) Samuel Celestino, do Bahia Notícias

Era de se esperar que a inesperada reportagem da revista “Veja”, que está a circular, causasse mais um embaraço para o difícil governo Dilma Rousseff, que enfrenta crise sobre crise. Vieram à luz, afinal, informações robustas sobre o escândalo conhecido como “Dossiê dos Aloprados”, que levou à prisão em flagrante dois petistas em um apartamento de hotel em São Paulo, com uma mala contendo R$ 1,7 milhão. Seriam utilizados para plantar informações na tentativa de derrotar José Serra, então candidato ao governo de São Paulo.

As apurações, como sempre acontece, terminaram em nada, mas balançaram o governo Lula. O termo “aloprados” foi utilizado por Lula rotulando os petistas, de modo a distanciar o seu governo do episódio. “Veja” denunciou, com base no depoimento de um ex-diretor do Banco do Brasil que conhecia a trama, o atual ministro de Ciências e Tecnologia, Aloizio Mercadante, e o já falecido chefe do PMDB em SP, Orestes Quércia.

As oposições que, até a crise desencadeada pelo milionário consultor Antônio Palocci estavam dispersas e sem objetivos, voltaram a atuar, encurralando o governo. DEM e PSDB querem convocar Mercadante para se explicar no Congresso. O ministro e Quércia eram candidatos contra Serra ao governo paulista. Fizeram um acordo: caso a trama criminosa desse certo, o que fosse eleito daria ao perdedor parte (em cargos) do governo de São Paulo.

Os partidos oposicionistas ingressarão com uma representação no Ministério Público e pretendem encaminhar requerimentos para a convocação de Mercadante, que não é flor que se cheire, nem consegue ser o economista que, quando senador, alardeava ser, vai estar nas manchetes. A seu favor o fato de o Congresso não funcionar nesta semana junina.

De qualquer modo, emerge mais uma denúncia (sempre com a imprensa comandando) dos males da República petista. Dilma e Lula, que andou puxando as orelhas dos petistas paulistas que estão sublevados com o governo, vão ter que, novamente, usar a sua bancada parlamentar para segurar mais um ministro, este o pai dos “aloprados”.

Assim posto, a presidente vê, pouco a pouco, seus projetos sendo minados e toma consciência de que não poderá governar sem o apoio da sua base. Fernando Collor tentou e sofreu um impeachment. Ela não corre este perigo –distante disso –mas terá que ter em Lula um interlocutor com o qual dividirá o poder político, porque demonstra não ter vocação para isso. O presidencialismo brasileiro é forte. Mas o Congresso, se quiser, determina os rumos. As crises seguidas atormentam o governo Dilma.