Com R$ 3 bilhões em dívidas, pecuarista de MT assume mandato de senador da República

Calote amigo – A partir desta semana, dois senadores que na vida privada mantinham negócios serão companheiros de plenário no Senado Federal. Jayme Campos (DEM-MT) e o suplente Antônio Russo Netto (PR-MS) foram parceiros na compra e venda de bois, até que o segundo deu um calote de pouco mais de R$ 1 milhão no pecuarista de Mato Grosso.

O dinheiro do débito refere-se à venda de bovinos para abate no Frigorífico Independência, que Campos ainda tem esperanças de receber. Discreto, o senador, entretanto, prefere não comentar a dívida. Os dois ainda seriam amigos. Em Campo Grande, Russo afirmou na última semana que o frigorífico Independência não possui débitos fiscais com o Estado.

O ex-açougueiro Russo Netto, de 70 anos, defende-se como pode. Garante que na época da quebradeira da empresa não era mais sócio ou estava à frente do empreendimento. O negócio estaria nas mãos de dois dos seus filhos. Russo assume a vaga de senador da República com a renúncia de Marisa Serrano (PSDB), que agora é conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso do Sul.

O Independência não só deixou de honrar os fornecedores que contabilizavam há dois anos créditos de R$ 50 milhões. Também o BNDES sofreu um calote da primeira parte de um total de R$ 400 milhões em empréstimos já aprovados.

A segunda parcela de R$ 200 milhões só não foi repassada pelo banco, em 2009, por solicitação do Ministério Público Federal. Naquele ano, o Independência fechou três unidades em Mato Grosso do Sul e demitiu cerca de 400 empregados.

Da noite para o dia – como se diz no mundo dos negócios – o Grupo independência, que já figurou no mercado como o segundo maior frigorífico exportador brasileiro, fechou suas portas.

Atualmente, a disposição da dívida do frigorífico é configurada em R$ 823 milhões de notas (de troca e seniores com garantia), que representam 44% da dívida total, R$ 576 milhões de linhas de capital de giro (31%) e R$ 413 milhões de dívida de financiamento ao comércio exterior (22%), totalizando cerca de aproximadamente R$ 3 bilhões.

Para colocar um fim da sangria financeira coletiva, no dia 22 de julho está previsto um leilão de três plantas industriais (Nova Andradina, Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, e Senador Canedo, em Goiás). Serão vendidos também um curtume (Nova Andradina), dois armazéns (Santos e Barueri, no Estado de São Paulo) e quatro terrenos espalhados em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins.

Os pagamentos aos pecuaristas e fornecedores terão de ser feitos de forma integral, como estabelecido no plano original. De um total de 24 parcelas, foram pagas até o momento apenas seis. O parcelamento aos credores do Independência, proposto no plano de recuperação judicial, havia sido suspenso nos meses de setembro e outubro do ano passado, com a promessa do frigorífico de retomada em novembro, o que acabou não acontecendo.

Mato Grosso do Sul ainda tem 94 credores com valores a receber do grupo Independência. Dos cerca de R$ 42 milhões devidos inicialmente aos pecuaristas pela indústria, R$ 17 milhões ainda não foram pagos.