Tiririca, o irreverente voto de protesto, mostra que política também ensina e deprime

(*) Renata Bezerra de Mello, da Folha de Pernambuco –

Irreverente, o deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), conhecido como Tiririca, despertou críticas, na campanha de 2010, ao aparecer em vídeo no qual questionava: “Você sabe o que faz um deputado federal? Eu também não. Vote em mim que eu te conto!”.

Na semana passada, após cerca de seis meses de mandato, ele voltou às telas em inserção na qual traz a resposta: “Eu já estou aprendendo o que faz um deputado federal. Por exemplo, um deputado federal não pode empregar sua família. Por isso, pai, continue catando latinha. Mãe, continue lavando roupa pra fora.”

Por trás do tom brincalhão do comercial ao abordar o nepotismo, a presença de Tiririca na Câmara Federal continua soando como um voto de protesto do povo brasileiro. Joga luz sobre a degradação da classe – por tantas vezes atropelada pelo Judiciário ao se ausentar de suas obrigações. E remete aos frequentes escândalos que acabam sem resposta, gerando decepção.

Mais votado, com 1,3 milhão de votos, só superado pelo ex-deputado federal Enéas (já falecido, eleito em 2002 com 1.5 milhão), o humorista pode significar o retrato “tristonho”, como seus próprios colegas o definem, da cena política. Em recente reportagem da Revista Playboy, Tiririca apareceu como um personagem “apagado” e que teria recebido ordens do partido para não abrir a boca.

Membro da Comissão de Educação junto com Tiririca, o deputado federal Raul Henry (PMDB) não faltou às reuniões do colegiado e registra: “nunca vi Tiririca usar o microfone”. Ao indagar se o republicano estava gostando da Câmara, ouviu apenas: “Estou aprendendo”. “Foi a única vez que escutei ele falar”, reforça o peemedebista, definindo a expressão do colega como de “grande humildade” e, talvez, “deprimido”.