(*) Magno Martins, do Blog do Magno –
Itamar Franco, que morreu sábado passado em São Paulo, aos 81 anos, era um político de gesto, ousado e corajoso. Uma das suas ousadias na Presidência da República, que assumiu num dos momentos de maior crise moral que o País enfrentou, decorrente dos escândalos que derrubaram Collor, foi ter apostado num nordestino para comandar a política econômica do seu Governo.
Itamar não queria entregar a Fazenda a São Paulo e pediu ao então governador de Pernambuco, Joaquim Francisco, a sugestão de um nome. “Eu levei um susto quando ele disse: “Joaquim indica o ministro da Fazenda”, porque seria quebrar um tabu muito grande tirar o controle da política econômica do eixo paulista”, lembra o ex-governador, que indicou o também ex-governador Gustavo Krause, que formou com o então ministro do Planejamento, Paulo Haddad, de Minas, o núcleo duro do governo.
Nem o próprio Krause, quando avisado por Joaquim, acreditou em tamanha ousadia. De Nova Iorque, o jornalista Paulo Francis, que carregava no sangue e na alma exagerado preconceito contra nordestinos, debochou de Itamar, disse que ele formou um ministério de compadres e sugeriu que Krause era um Jeca Tatu.
É claro que não daria certo. Krause emprestou todo o seu talento, mas passou apenas quatro meses na função, boicotado pelo PIB nacional, os que sempre mandaram na economia e que não admitiam perder o seu controle. Itamar, entretanto, fez uma grande deferência com o Nordeste. E mesmo incompreendido entra para a história como o pai da estabilidade do País.
Numa entrevista ao jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, o ex-presidente Itamar Franco contou bastidores do seu governo nunca revelados. Disse que políticos o procuraram para sugerir o fechamento do Congresso. “O Congresso enfrenta uma crise muito séria. Há corrupção generalizada na Comissão de Orçamento. É melhor fechar por um tempo”, sugeriram parlamentares, segundo relato do próprio Itamar, que não revelou o nome dos deputados.