Consumidor prejudicado – Como esfriou por enquanto a megafusão do Pão de Açúcar com o Carrefour do Brasil, as atenções se voltam agora para outra bilionária associação entre a Perdigão e Sadia. A exemplo do ramo supermercadista, a criação da Brasil Foods está envolvida em questões polêmicas, como o monopólio na produção de alimentos, concorrência predatória e aumento de até 40% nos preços dos produtos oferecidos pelas duas empresas criadas em Santa Catarina.
No caso do Pão de Açúcar e Carrefour, o negócio começou a fazer água por dois motivos. O primeiro deles foi a participação do BNDES no financiamento da fusão, com claros interesses palacianos. O segundo, inesperado, foi a recente a gritaria de Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, que na semana passada disse no Brasil que o empresário Abílio Diniz tenta expropriar os franceses com a associação aprovada no início do mês pelo conselho do Carrefour. A nova gigante poderá dominar 32% do varejo supermercadista brasileiro.
A fusão da Sadia e Perdigão já é um assunto que está sendo discutido no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cadê) há algum tempo, mas foi pouco discutido pela sociedade brasileira. O tema chega com atraso ao Parlamento. A criação da Brasil Foods será o tema da audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara nesta terça-feira (12). É improvável, entretanto, a presença do presidente da BR Foods, José Antônio Fay, que foi convidado para explicar o negócio.
O Cade já tinha se manifestado pela ocorrência de prejuízos aos consumidores em função de possível “cartelização” do mercado de alimentos congelados e processados. A Procuradoria-Geral do órgão é contrária à operação de fusão. O julgamento final da matéria está previsto para esta quarta-feira (13).
O deputado Ivan Valente (PSol-SP) afirmou hoje que as implicações geradas com o surgimento da Brasil Foods são perigosas para o mercado de produtos de alimentos industrializados. Segundo ele, além do consumidor, também ficaram reféns desse monopólio trabalhadores e fornecedores.
“A nova empresa deterá 80% do mercado. O consumidor não terá opção de compra, os trabalhadores ficarão submetidos a uma empresa e os fornecedores também. A Brasil Foods colocará o preço que quiser. O resultado no longo prazo é claro: preços mais altos, menores quantidades e desenvolvimento tecnológico reduzido”, argumenta Ivan Valente.