Na marca da cal – O “demissionário” diretor do Departamento de Infraestrutura dos Transportes, Luiz Antônio Pagot, provavelmente não voltará a ocupar o cargo após o término de suas merecidas férias. Agosto é o mês em que definitivamente deverá sair do posto. Inclusive, Pagot chegou a dizer, durante depoimento na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (13), que o Palácio do Planalto deveria tê-lo demitido, não afastado.
Segundo o próprio líder do PR na Câmara, deputado Lincoln Portela (MG), a presidente Dilma Rousseff em momento algum lhe deu garantias de que Pagot permanecerá no cargo. E aproveitou para esclarecer que o PT e o PR estão em paz. O cachimbo será fumado na noite desta quarta-feira, durante coquetel oferecido por Dilma Rousseff. “Está tudo muito bem entre o PR e o PT”, frisou.
Portela negou que o ministro dos Transportes tivesse se referido a nomes para o lugar de Pagot. O líder do PR disse que a linha de conduta do partido é de prudência, mas cogita-se a substituição de Pagot por Hideraldo Luiz Caron. Durante o seu depoimento, Pagot afirmou que Hideraldo é um técnico exemplar. “E se ele vier a ocupar meu cargo, terá competência para tocar.” Porém, Pagot fez questão de dizer que não ficou satisfeito com o seu afastamento. “Eu não posso ser afastado, tenho que ser demitido.”
Em certo momento do depoimento de Luiz Antônio Pagot, o deputado Paudernei Avelino (DEM-AM) indagou: “Se no DNIT não havia problemas, por que a cúpula foi demitida?” E o diretor afastado do órgão não respondeu.
Em outra questão, Paudernei lembrou que o DNIT recebeu duras críticas do governador do Ceará, Cid Gomes, descrevendo integrantes da diretoria como uma “quadrilha”. “O governador colocou todos os senhores no mesmo saco”, disse o deputado.
Em um vacilo discursivo, Pagot admitiu que haver motivo para enervar o governador Cid Gomes, referindo-se às supostas falcatruas de representantes do DNIT no Ceará. E disse que Cid estava errado quando começou a esbravejar soltando palavrões. “O governador Cid Gomes tem razão nas argumentações e perde a razão quando chama o DNIT de quadrilha”, completou Pagot. Ao dar razão ao governador, o diretor afastado acabou incriminando o órgão que comandava.
Perfil de Hideraldo
O diretor de Infraestrutura Rodoviária do DNIT, Hideraldo Caron, ex-diretor do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, é citado em um diálogo monitorado pela Polícia Federal (PF). Na conversa, segundo reportagem publicada na terça-feira (12) pelo jornal “Folha de S. Paulo”, o dono da construtora Gautama, Zuleido Veras, aponta Caron como o responsável pela liberação de uma obra do interesse da chamada Máfia das Obras. Zuleido, o “Mister Z”, detalhou a um representante do governo do Maranhão a atuação “fundamental” de Caron na aprovação de uma pavimentação em uma rodovia daquele Estado.
Zuleido teria interesse no convênio nº 087/06, firmado entre o DNIT e o governo do Maranhão. Ele prevê a execução de obras de implantação e pavimentação da BR-402. O trecho, de 128,8 quilômetros, vai do quilômetros 184 ao 313, cortando a região dos Lençóis Maranhenses em direção ao Piauí e ao Ceará.
Orçado em cerca de R$ 200 milhões, o convênio foi aprovado em reunião da diretoria colegiada do DNIT – composta por sete diretores e da qual Caron faz parte – em 23 de junho de 2006. Caberia à União financiar R$ 180 milhões, e o restante seria custeado pelo Estado. O pedido de liberação da obra teria chegado ao DNIT dois anos antes, encaminhado pelo então governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, preso na Operação Navalha e depois libertado.
Segundo relato da assessoria do DNIT, a obra foi solicitada por intermédio do ofício nº 16/2006-Rebras, assinado pelo secretário de Articulação Institucional do Maranhão, Paulo Roberto Monciaro Mury. A ação de Caron no caso teria se limitado à analise técnica preliminar do convênio.
A decisão final sobre a aprovação teria sido de toda a diretoria colegiada. Caron, em sua defesa, disse que teve acesso a parte da conversa grampeada pela Polícia Federal. De acordo com o diretor do Dnit, o grampo capta um diálogo entre Zuleido e o lobista Geraldo Magela. Na escuta, o lobista afirma a Zuleido que, caso o convênio não fosse aprovado, Caron pediria vista a outros processos relatados pelos demais diretores do Dnit.
“Já relatei mais de 5 mil processos e jamais fiz um único pedido de vista. Nunca conversei com Zuleido nem com Magela”, defendeu-se Caron, à época iria processar o dono da Gautama e o lobista. Caron disse que não fez qualquer pressão ou ameaça aos colegas de diretoria para acelerar a aprovação do convênio.
Segundo o diretor do DNIT, o processo de licitação para execução da obra é de responsabilidade do governo do Maranhão. O processo licitatório foi encaminhado ao Dnit e estava sob análise da Coordenação de Convênios, departamento responsável por aferir a legalidade dos editais.
Com o estouro do escândalo da máfia das obras, o processo de licitação da BR-402 foi requisitado pela Controladoria Geral da União para investigações. Caron ressaltou que, embora o convênio tenha sido assinado, as obras ainda não tiveram início e tampouco o DNIT teria liberado os recursos. “Não temos qualquer ingerência na licitação. Sequer olhei esse processo”, disse Caron à época. (Foto: Agência Brasil)