Jobim quer deixar o Ministério da Defesa para fugir da crise que ronda o alto escalão do Exército

Verba suspeita – Há duas semanas, o ministro da Defesa, Nelson Jobim (PMDB), teria comentado com um amigo próximo que pretendia deixar o cargo. E que arrumaria um motivo para que a presidente Dilma Rousseff (PT) o demitisse. Na semana passada, Jobim falou fora de contexto, como observou no domingo (31) o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que na eleição presidencial do ano passado votou em José Serra, do PSDB.

A revelação teria provocado constrangimentos à presidente e declarações raivosas de petistas. Jobim é amigo de Serra, mas também é do ex-presidente Lula da Silva, que avalizou sua permanência na Defesa, apesar de muitas manifestações em contrário. Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim chegou até mesmo a ser cogitado para o Ministério da Justiça na época da composição do governo Dilma.

O ministro, no entanto, poderá ampliar o eco das declarações da semana passada nesta segunda-feira (1), durante o programa “Roda Viva”, da TV Cultura. Sua presença no programa de entrevistas, que será exibido à noite, cria mais expectativas para uma provável demissão, a terceira no primeiro escalão do governo federal. A exoneração dele já estaria definida e poderia acontecer nos próximos trinta dias.

Jobim tem contabilizado inimigos no governo e não foram poucas as suposições de que estaria sendo beneficiado pela compra de caças franceses para renovação da frota da Força Aérea Brasileira. Com tantas suspeitas, o ministro ainda foi picado pela mosca azul. Nas coxias do poder deixa transparecer o desejo de concorrer à presidência da República, em 2014, incentivado por um grupo de peemedebistas históricos.

Seriam, portanto, vários os motivos para que Nelson Jobim deixe a Defesa. Há também uma crise que se avizinha na cúpula do Exército. A primeira é a falta de explicação para a aplicação R$ 625 milhões na Vila Militar do Rio de Janeiro. O dinheiro teria sido liberado pelo Ministério do Esporte na esteira dos Jogos Mundiais Militares, mas os recursos foram alocados para a infraestrutura que beneficia apenas os militares. As obras estariam foram do objetivo e das necessidades dos Jogos.

A segunda nova crise que Nelson Jobim pretende se livrar é mais grave. A Procuradoria-Geral de Justiça Militar investiga nada menos que o comandante-geral do Exército, general Enzo Martins Peri. Outros sete generais de quatro e três estrelas estariam envolvidos em obras contratadas pelo Ministério dos Transportes.

Os oficiais estavam à frente do Departamento de Engenharia e Construção (DEC) e do Instituto Militar de Engenharia (IME) de 2004 a 2009, quando o Exército fez obras em convênio com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Segundo reportagens da “Folha de S. Paulo”, a investigação foi iniciada em maio passado pela procuradora-geral de Justiça Militar, Cláudia Luz. Ela é consequência de inquérito que identificara indícios de fraude em 88 licitações do Exército para fazer obras do Ministério dos Transportes e apontou desvios de R$ 11 milhões.