Ideli Salvatti negocia com Valdemar Costa Neto a permanência de “Juquinha” na presidência da Valec

(Foto: Folha/UOL)
Raposa felpuda – Há seis anos o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) não fala à imprensa. O silêncio obsequioso aconteceu após o escândalo do “Mensalão do PT”, quando o parlamentar estava na função de líder da bancada. Para não ter o mandato cassado, como aconteceu com o ex-ministro e ex-deputado José Dirceu (PT-SP), Costa Neto renunciou e submergiu. Voltou à Câmara dos Deputados após vencer uma tranquila eleição no estado de São Paulo, em outubro de 2010.

Valdemar Costa Neto voltou ao noticiário na sequência das denúncias que atingiram o Ministério dos Transportes, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e a empresa pública Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias. Mesmo sob forte ataque, o deputado apanhou calado. Preferiu o silêncio, pois como raposa política das mais habilidosas sabe que só o tempo é o senhor da razão.

Acontece que o escândalo ainda não esfriou, mas o secretário-geral e verdadeiro dono do Partido da República já se move pelos corredores da política palaciana. Há três dias, Costa Neto recebeu em sua casa a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT-SC). A conversa serviu para aparar algumas arestas, já que a “faxina” que a presidente Dilma Rousseff anunciou no Ministério dos Transportes tinha endereço o próprio deputado e seu preposto no cargo de presidente do partido, o senador Alfredo Nascimento (AM).

A conversa de Ideli Salvatti se justifica por conta da bancada do PR na Câmara, controlada com mão de ferro por Costa Neto. Nos anos em que deu apoio aos dois governos de Lula da Silva, o partido foi mais fiel nas votações que o PT ou o PMDB. A agremiação sempre votou “fechado” nas matérias de interesse do Palácio do Planalto.

A ministra de Relações Institucionais, a pedido da própria presidente Dilma Rousseff, quer resgatar o PR das cinzas através de Costa Neto. O partido seria uma espécie de tábua de salvação nos projetos de grande interesse do governo, diante de uma base que se sustenta através da chantagem fisiológica. A conversa aconteceu depois de um jantar dos parlamentares que, sem a presença dos maiores críticos do governo, delegou poderes à executiva nacional para discutir a forma como se dará o apoio a Dilma.

A decisão, na verdade, credencia Costa Neto a negociar em nome do PR. Alfredo Nascimento anunciou que o partido se afastaria da base, mas não é exatamente o que Ideli e Costa Neto desejam.

Na conversa, o secretário-geral pediu a permanência de José Francisco das Neves (o Juquinha) na presidência da Valec. De fato, Juquinha continua no cargo. Está afastado temporariamente, mas figura na lista de diretores da empresa exibida em seu site, ao lado de Francisco Elísio Lacerda, Luiz Carlos Oliveira Machado e Antônio Felipe Sanches Costa. Quando estourou o escândalo nos Transportes, no DNIT e na Valec, o governo afirmou que todos seriam demitidos. Como se vê, isso não aconteceu.

O PR ainda mantém postos-chave no segundo e no terceiro escalões do governo, com 14 das 23 superintendências do DNIT, sem contar os apadrinhados que estão fincados na estatal.

A Valec é uma espécie de consórcio Costa Neto-José Sarney. Por lá ambos os políticos indicam seus “apaniguados” há anos. Alguns já são acusados de improbidade administrativa, como Juquinha, homem dos bastidores da política de Goiás e do Distrito Federal e cabo eleitoral do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Laudo do Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, constatou superfaturamento de R$ 71,7 milhões em um trecho de 105 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, em território goiano, segundo informou a revista “IstoÉ” em edição de abril passado.

Os peritos também questionam a lisura da licitação e suspeitam de “conluio” entre as empresas. Segundo o Ministério Público Federal, o edital viciado da Norte-Sul beneficiou as empresas Constran, Lupama e EIT, essas duas últimas envolvidas com o esquema que a PF atribui ao empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Congresso Nacional.

Um dos sócios da Lupama, Gianfranco Perasso, aparece nas escutas da PF negociando uma divisão de propina proveniente das obras. Para os peritos criminais, essas empresas formaram um “consórcio clandestino”. Além de Juquinha e Ulisses Assad (companheiro de Fernando na época da faculdade de engenharia), são acusados pelo MPF na Justiça Federal o dono da Lupama, Gianfranco Antônio Perasso, a Constran, e o diretor de engenharia da Valec, Jorge Antônio Almeida, e o superintendente de engenharia, André Luiz de Oliveira.