Redução da Selic aumentou a suspeita de que o BC não é independente e se rende ao Planalto

Dúvida no ar – O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) demorou horas para decidir a redução da taxa básica de juro, a Selic, e redigir uma explicação de quatro parágrafos nada convincente. O corte de meio ponto percentual reduziu a Selic para 12% ao ano, mas elevou a suspeita de que o Banco Central não é tão independente quanto se anuncia.

Na última segunda-feira (29), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante entrevista coletiva, disse que o governo elevou em R$ 10 bilhões o superávit primário, o que pode ser considerado um factóide para influenciar a decisão do BC. Dias depois, a presidente Dilma Rousseff, em viagem ao Nordeste, falou com firmeza sobre redução de juros.

A decisão do Copom, diga-se de passagem, não foi unânime. Cinco integrantes do comitê votaram a favor da redução da taxa de juro, enquanto outros dois optaram por mantê-la em 12,5% ao ano. A questão do superávit primário, agora maior, não representa corte de gastos, mas apenas o desejo palaciano de não lançar mão do excedente da arrecadação tributária.

O anúncio do BC pegou de surpresa a grande maioria dos analistas do mercado financeiro, que apostavam na manutenção da Selic. Isso mostra que o Banco Central e o governo da presidente Dilma Rousseff estão pouco empenhados no combate à inflação, pois o segundo semestre é marcado pela negociação salarial de diversas categorias, além de contar com o décimo terceiro salário. Dois ingredientes que despejam no mercado interno um maior volume de dinheiro e puxa para cima a demanda, que por sua vez impulsiona a inflação.

Fora isso, a queda da Selic, que para muitos empresários ainda é inócua, fará com que o crédito ao consumidor seja estimulado. Como se não bastasse, a crise que preocupa diversas economias ao redor do planeta, em especial nos países da zona do euro, pode ter consequências nada agradáveis aqui no Brasil.