E os juros especiais do cheque?

(*) Petrônio Souza Gonçalves –

O governo Dilma soube capitanear bem em cima da decisão austera do Banco Central na redução dos juros da Taxa Selic. Nossa condição sempre servil nos dá, às vezes, uma pequena sensação de independência, de liberdade, de que estamos seguindo por novos caminhos, pavimentados pela autodeterminação política e ideológica, que nos chega com alguns séculos de atraso. São essas pequenas miudezas que enchem nossos corações de esperança.

Juros altos só servem a um senhor, aquele que especula, que aplica no mercado financeiro para ter o retorno imediato sem gerar um emprego sequer, sem forjar um parafuso. Essa foi a política que imperou no Brasil de sempre, que impera até os dias de hoje, valorizando o capital no lugar do trabalho, a especulação no lugar da produção.

Mundo afora, quando a inflação bate à porta do mercado nacional de vários países, reduzem-se os juros, para facilitar a produção e a manutenção do mercado interno, com o aumento na oferta de produtos. No Brasil, seguindo uma ótica equivocada, aumentam-se os juros, acreditando diminuir o crédito e, com isso, reprimir as compras e a elevação da produção. É claro que é uma política tola, que só se justifica pelo lucro aumentado dos bancos, que sempre são beneficiados pelos altos juros em qualquer economia.

Em um país com dimensões continentais como o nosso, com uma forte oferta de matéria prima em todas as regiões, só mesmo uma política de baixos juros para dinamizar o mercado produtivo em dimensões nacionais, de forma uniforme. Pois, com facilidade para buscar crédito, o pequeno e médio empresário e produtor, esmagadora maioria em nosso país, pode vislumbrar a expansão contínua de sua empresa, pode fazer novos e até ousados investimentos. Essa política de baixos juros ajuda diretamente o pequeno e médio produtor, aquele que precisa, regularmente, de fazer novos investimentos e adequações em suas pequenas empresas.

Se por um lado o Banco Central se mostrou independente para baixar os juros da Taxa Selic, a mesma postura austera não acompanhou a decisão na redução dos juros diretos ao consumidor, à família brasileira, que são os juros do cheque especial e do cartão de crédito. É constatado e apontado em inúmeras pesquisas que grande parte da família brasileira já incorporou, há tempo, o limite do cheque especial ao orçamento mensal, pagando sempre juros altíssimos, os maiores do planeta, a grandes e internacionais conglomerados financeiros, os grandes bancos que divulgam, semestre a semestre, seus recordes em lucros e arrecadações.

Os maiores lucros em nosso país não são das empresas que geram emprego e renda para a população, aquelas que fabricam o desenvolvimento nacional. Mais sim dos bancos, aqueles que, muitas vezes, se apresentam como obstáculo ao desenvolvimento do país. Tudo isso, com a aprovação silenciosa do Planalto Central, com a complacência de nossos repetidos governos.

É hora do Partido dos Trabalhadores privilegiar o trabalho e não mercado, essa entidade sem corpo e sem alma, é hora do governo ser mais dos trabalhadores e menos dos especuladores. É hora de libertar a família brasileira dos juros escorchantes e vergonhosos do cheque especial, é hora de facilitar o crédito para quem trabalha e precisa crescer.

Só assim, de forma definitiva, convicta e altruísta, poderíamos acreditar que algo mudou no centro do Planalto Central.

(*) Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor