Fingindo de morto – Há na Câmara dos Deputados um fato que no mínimo pode ser considerado estranho, entre tantos outros que por lá flanam. A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu na última segunda-feira (19) um procedimento para investigar o deputado Pedro Novais (PMDB-MA), que foi ejetado do Ministério do Turismo na esteira de denúncias de irregularidades.
Sempre obediente ao chefe do clã que governa o Maranhão com mão de ferro há quase cinco décadas, Novais foi acusado de usar dinheiro público em benefício próprio. Entre as acusações estão a de utilizar verba do seu gabinete para pagar o salário de uma doméstica que durante sete anos trabalhou em seu apartamento em Brasília, e empregar o motorista de sua mulher no gabinete do também deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA).
Antes desses dois lamentáveis episódios que resultaram na sua demissão, Pedro Novais foi acusado de usar parte da verba indenizatória a que os deputados têm direito para custear uma festa de arromba em um motel no interior do Maranhão. Diante do escândalo, Pedro Novais preferiu ressarcir os cofres da Câmara, pois assim, seguindo o regimento da Casa, acabou evitando um processo investigatório interno e que poderia resultar em constrangimentos maiores.
Acontece que até esta quarta-feira (21) o corregedor da Câmara dos Deputados, Eduardo da Fonte (PP-PE), não se pronunciou sobre o caso. Segundo vice-presidente da Câmara, Dudu, como é conhecido o parlamentar pernambucano, tem por obrigação de ofício agir com celeridade para coibir práticas delituosas cometidas por parlamentares. É sabido que na política o chamado espírito de corpo sempre prevalece, mas em alguns casos o bom senso é majestade.
Conhecido por desenvoltura bisonha nos bastidores da política nacional, Eduardo da Fonte é um dos artífices da intifada que defenestrou da liderança do Partido Progressista na Câmara o deputado Nelson Meurer (PP-PR), que a fórceps cedeu lugar para o paraibano Aguinaldo Nogueira.
O maquiavélico projeto tem como operadores, além do próprio Eduardo da Fonte, os senadores Ciro Nogueira (PI), que sonha em tomar a vaga do ministro Mário Negromonte, e Benedito de Lira (AL), que contam com o incondicional apoio dos deputados Paulo Salim Maluf (SP) e Espiridião Amin (SC). Ou seja, uma versão tropical da “Sociedade dos Poetas Mortos”.
Antes de se preocupar em conspirar contra integrantes do próprio partido, Eduardo da Fonte deve explicações ao povo brasileiro, pois não há como concordar com as transgressões cometidas por Pedro Novais e Francisco Escórcio.