Começa hoje o festival de Brasília do Cinema Brasileiro debaixo de chuva e da falta de decência

(*) Carlo Iberê, do CineLux

Começa hoje uma desinteressante e incolor 44ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, no qual apenas seis filmes estarão na mostra competitiva, sendo três deles já rodados em outros Festivais.

A falta de importância do Festival, e não dos filmes, diretores e artistas que estarão na Capital, que amanheceu coberta por uma leve chuva depois de 108 dias de seca, acompanha a decadência política, administrativa e cultural do Distrito Federal.

A seca aqui não é apenas de chuva. Faltam decência, compromisso, vergonha, honestidade. Nada que não esteja em baixa no resto do País, o problema local é o tamanho do déficit.

Brasília, berço tradicional do rock nacional, por exemplo, onde se desenvolveram grandes nomes da nossa música no urderground “Porão do Rock”, hoje nem nisso se destaca.

Apenas para lembrar um, em tempos de Rock in Rio, e para não citar Renato Russo, foi aqui que nasceu o grupo Capital Inicial, considerado um dos melhores shows do evento.

É bem verdade que foi o grupo brasiliense “Móveis Coloniais de Acaju” que mandou os primeiros acordes deste ano, mas talvez seja melhor deixar para lá e retomar o rumo da prosa.

Portanto, não é coincidência o Festival ser aberto hoje com o filme “Rock Brasília – Era de Ouro”, do brasiliense por adoção mútua, Vladimir Carvalho, um documentarista que se aproxima de Eduardo Coutinho entre os principais nomes do gênero.

É essa história de grandes nomes, como Legião Urbana, Plebe Rude e outros, que o documentário mostra. Embora a abertura seja fechada, para convidados, talvez sirva para recolocar a discussão que cidade é essa ! ?
O tamanho do prejuízo para o público em geral e para os cinéfilos candangos pode ser medido pela quantidade de salas fechadas nos últimos dois anos em Brasília, perto de 30, portanto, quase 50% do que restou.

Há a promessa da chegada do tradicional Espaço Unibanco, onde é possível se ver algo além e por mais tempo do que apenas blockbusters.

Para que ninguém pense que há exagero, exemplo: o filme mais “alternativo” em cartaz hoje em todo o Planalto Central ainda é “Meia-noite em Paris”.

Dando o benefício da dúvida: é verdade que os organizadores do Festival tentaram injetar atrações, aumentando o prêmio de 80 mil para 250 mil reais, mudaram a dada para não coincidir com o do Rio de Janeiro, no início de outubro, e derrubaram a barreira do ineditismo para a mostra competitiva.

Mas, como diz uma amiga minha, como tudo que está ruim pode piorar, segundo o Correio Braziliense, as três comissões julgadores, Curtas, Curtas de Animação e Longas, não tiveram tempo hábil, 15 dias, para ver todos os 624 inscritos: 110 longas (56 inéditos), 415 curtas e 99 animações. Também é melhor deixar para lá.

Foi assim que estão escalados para competir os já conhecidos “Trabalhar Cansa”, de Juliana Rojas, “Meu País”, de André Ristum, e as “Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro.

Os inéditos são “O Homem que Não Dormia”, de Edgard Navarro, “Hoje”, de Tata Amaral, e o documentário “Vou Rifar Meu Coração”, de Ana Rieper. Sinopses oficiais e os dois trailers disponíveis abaixo.
Espera-se que a Marcha Contra a Corrupção, iniciada com sucesso no último Sete de Setembro, seja tema de um documentário dentro de alguns anos. Como mostra Carvalho, sempre é possível esbarrar e resistir. Mas, por ironia do destino, “Rock Brasília…” concorre ao prêmio Câmara Legislativa do Distrito Federal. Defitivamente, a vida é dura.

“Meu País”

Direção: André Ristum. Elenco: Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Debora Falabella e Anita Caprioli.

Ficção: Após a morte repentina do pai, Marcos, que vive na Itália, volta ao Brasil e reencontra o irmão Tiago e descobre que tem uma meia irmã portadora de deficiência intelectual. Ao mesmo tempo em que têm de lidar com o luto, Marcos e Tiago têm de cuidar da \’nova irmã’ e aprender a conviver com suas diferenças.

“Trabalhar Cansa”

Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra. Elenco: Helena Albergaria, Marat Descartes, Naloana Lima, Marina Flores, Lilian Blanc, Gilda Nomacce, Hugo Villavicenzio, Thiago Carreira, Luis Serra, Eliana Teruel, Ney Piacentini, Antonio Januzelli, Lucélia Machiaveli, Orides Vicente da Silva, Anderson Jesus, Fred Mesquita, Julio Machado, Laerte Késsimos, Beto Matos, Silvio Restiffe, Luís Mármora, Clarissa Kiste, Thiago Ledier, Guilherme Gorski, Ana Petta, Eduardo Gomes, Daniela Smith, Ruben Pignatari, Marina Corazza, Maxwell Pontes, Lucas Hansen, Thaís Rangel, Tibério César, Paolo Gregori, Laerte Dutra, Alexandre Dutra, Eduardo Rauert, Rafael Gomes, Gregório Graziosi, Kauê Telloli, Victor Mendes, Caetano Gotardo, Fernando Oliveira e Daniel Turini.

Ficção: A jovem dona-de-casa Helena resolve realizar um desejo antigo e abrir seu primeiro empreendimento: um minimercado. Ela contrata a empregada doméstica Paula para tomar conta das tarefas do lar e de Vanessa, sua filha. Quando seu marido Otávio perde o emprego como gerente em uma grande corporação, as relações pessoais e de trabalho entre os três personagens sofrem uma inversão inesperada, ao mesmo tempo em que ocorrências perturbadoras passam a ameaçar os negócios de Helena.

“O Homem que Não Dormia”

Direção: Edgard Navarro. Elenco: Bertrand Duarte, Evelin Buchegger, Fabio Vidal, Mariana Freire, Ramon Vane, Luiz Paulino dos Santos, Jorge Washington, Fernando Neves, Edgard Navarro, Fernando Fulco, Bertho Filho, Nélia Carvalho, Luiz Pepeu, Marinho Gonçalves, Adaílson dos Santos, Edneas Santos, Narcival Rubens, Rui Manthur, Psit Mota, Lázaro Machado, Carlos Betão, Zeca de Abreu, Júlio Góes, Inaldo Santana, Lucio Tranchesi, Harildo Deda.

Ficção. Alguns habitantes de um lugarejo remoto são acometidos pelo mesmo pesadelo. A chegada de um peregrino de origem misteriosa irá deflagrar o conflito interno em que vivem, determinando uma ruptura radical em suas vidas.

“Vou Rifar Meu Coração”

Direção: Ana Rieper. Elenco: Agnaldo Timoteo, Amado Batista, Lindomar Castilho, Wando, Nelson Ned e todos os personagens que abriram suas casas e corações, falando sobre suas vidas e amores.

Documentário que trata do imaginário romântico, erótico e afetivo brasileiro a partir da obra dos principais nomes da música popular romântica, também conhecida como brega. Letras de músicas de artistas como Odair José, Agnaldo Timóteo, Waldik Soriano, Evaldo Braga, Nelson Ned, Amado Batista e Wando, entre outros, formam verdadeiras crônicas dos dramas da vida a dois. No filme, os temas das músicas se relacionam com as histórias da vida amorosa de pessoas comuns. Conta com depoimentos de Agnaldo Timóteo, Wando, Amado Batista, Lindomar Castilho, Nelson Ned e de Rodrigo Mell, este último representante da nova geração do brega.

“As Hiper Mulheres”

Direção: Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro

Documentário: Temendo a morte da esposa idosa, um velho pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar mais uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.

“Hoje”

Direção: Tata Amaral. Elenco: Denise Fraga, Cesar Troncoso, João Baldasseirine, Pedro Abhull, Lorena Lobato e Cláudia Assunção.

Ficção: Vera, uma ex-militante política, recebe indenização do governo brasileiro pelo desaparecimento do marido, Luiz, vítima da repressão desencadeada pela ditadura militar brasileira (1964-1985). Com a indenização, ela pode comprar o tão sonhado apartamento próprio e libertar-se desta condição de “suspensão” em que viveu durante décadas. No dia de sua mudança para o novo apartamento, Luiz reaparece. O filme é o encontro de amor entre Vera e Luiz, que reaparece vindo do passado.