Corregedor da Câmara, Eduardo da Fonte aproveita a inércia popular e não comenta escândalo de Maluf

Bambolê popular – O povo brasileiro ainda não se definiu em relação à corrupção. O comportamento da sociedade diante de alguns escândalos envolvendo políticos e autoridades é no mínimo dúbio, para não afirmar que é dual.

Recentemente, a Câmara dos Deputados decidiu abrir processo para cassar o mandato de Jaqueline Roriz, flagrada em vídeo recebendo dinheiro do operador do “Mensalão do Democratas”, o também delator Durval Barbosa. Desde o início do processo, os jornalistas do ucho.info alertaram para a possibilidade de o caso frustrar a expectativa popular, pois é preciso, antes de tudo, manter o ordenamento jurídico da nação. O que não significa que recebemos procuração para defender Jaqueline Roriz e seus interesses. E não é difícil compreender a situação.

Quando recebeu o dinheiro de Durval Barbosa, a agora deputada federal Jaqueline Roriz era apenas e tão somente candidata à Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ou seja, se ao Poder Legislativo cabe a prerrogativa de julgar e condenar, cassando inclusive um mandato parlamentar, isso deveria ter acontecido no âmbito da Câmara Distrital. Mesmo assim, fica a ressalva de que Jaqueline Roriz deveria ser barrada nas urnas por vontade dos eleitores, o que não aconteceu porque à época o caso ainda não tinha sido divulgado.

Na Câmara dos Deputados, o corregedor-geral da Casa, Eduardo da Fonte (PP-PE), abriu processo investigatório contra Jaqueline Roriz. Analisado ao pé da lei vigente e respeitando decisões anteriores da própria Câmara, o tal processo foi marcado pela ilegalidade, pois por ocasião da transgressão Jaqueline Roriz não integrava os quadros da Casa legislativa, situação que ajudou sobremaneira na derrubada da tese da quebra do decoro parlamentar. Mesmo assim as manifestações populares contra Jaqueline foram válidas e absolutamente necessárias, pois há muito o Brasil carece de uma profunda assepsia no universo político.

No último dia 29 de setembro, o Supremo Tribunal Federal decidiu indiciar o ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PP-SP), agora deputado federal, e alguns de seus familiares, acusados de formação de quadrilha e de remessa de dinheiro para o exterior. Relator do processo, o ministro Ricardo Lewandowski afirmou, com base nas investigações do Ministério Público, que o montante movimentado ilegalmente por Paulo Maluf e seus parentes pode ter ultrapassado a incrível marca de US$ 900 milhões. O dinheiro teria sido desviado da prefeitura de São Paulo e depositado em contas bancárias nas Ilhas Jersey, em Nova York e em Londres.

Por enquanto o caso está dominado pela palavra do STF e a de Maluf e seus familiares, mas é voz corrente na cidade de São Paulo que inúmeras obras da prefeitura paulistana foram superfaturadas durante a gestão do agora deputado federal.

Tomando o caso de Jaqueline Roriz como referência, há no escândalo envolvendo Paulo Maluf uma situação bisonha e estranha por parte da sociedade, que assimilou a decisão do STF como mais um capítulo na história conturbada de um político que nos últimos anos tem estado na mira do Ministério Público. No mínimo o povo, que há mais de cinco séculos é vilipendiado em seus direitos, deveria protestar de forma contundente contra Paulo Maluf.

Na seara da Câmara, a exemplo do que fez com Jaqueline Roriz, o deputado-corregedor Eduardo da Fonte deveria abrir processo contra Maluf, pois as acusações contra o ex-alcaide paulistano ferem de morte a classe política. Dudu, como é conhecido o corregedor, dificilmente fará algo contra Maluf, pois ambos integram o grupo do Partido Progressista que patrocinou semanas atrás uma intifada na legenda, movimento que culminou com a derrubada de Nelson Meurer, então líder do PP na Câmara.

Porém, para manter as aparências nada convincentes, fingir que é isonômico como corregedor e dar satisfação ao povo brasileiro, mesmo que de forma evasiva, Eduardo da Fonte deveria se manifestar sobre o escândalo que mais uma vez deposita nódoas no currículo de Paulo Maluf. Esperar que isso aconteça é algo tão impossível quanto o Papai Noel descer pela chaminé de casa na noite de Natal. Enfim, há quem diga que a esperança é a última que morre.