A história do cinema da Coreia com Lee Chang e o guia na internet dos festivais de cinema

(*) Carlo Iberê, do CineLux

A história do cinema no mundo pelas lentes de Cannes continua hoje com o desenvolvimento na Coreia. Faz parte da série de artigos que o CineLux está publicando diariamente, disponibilizados pelo site oficial do Festival de Cannes.

Por falar em sites organizados, ativos, profissionais, o site do Festival do Rio, que começa nesta sexta-feira (7), até este momento, não está no ar. E não é por falta de bons patrocinadores, co-patrocinadores e apoiadores.

Ao entrar no site oficial do Rio, apenas um aviso que os ingressos já estão sendo vendidos, um link para o Facebook, onde existem algumas postagens, um pdf, provavelmente de alguma publicação oficial, além dos arquivos dos anos anteriores.

No arquivo em pdf, “guia da programação”, o que menos se consegue saber é sobre os filmes que concorrem este ano, em um Festival que está fazendo a maior festa na imprensa por ser aberto com película “La Piel que Habito”, de Almodóvar.

O site de Cannes, para ficar em apenas um exemplo, é atualizado periodicamente com notícias do próximo Festival, inclusive com a data certa para 2012, ou com a programação de estreias nos cinemas franceses.

É assim que caminham as humanidades

Lee Chang Dong (*)

Um jovem coreano abandona a sua aldeia, amarrado por uma corda puxada por um polícia japonês. Matou com golpes de foice o capanga de um proprietário sádico que martirizava os aldeões. Assim termina o filme de Na Un-gyu, intitulado Arirang. A lenda conta que quando este filme saiu, em 1926, ou seja, sob a ocupação japonesa, os espectadores coreanos choravam nas salas de cinema cantando em coro o cântico folclórico intitulado “Arirang”.

Este filme, considerado atualmente como aquele que marcou os verdadeiros inícios do cinema coreano, é bastante representativo de uma das suas principais características, pois constitui o reflexo do contexto e da realidade social da altura, sendo ao mesmo tempo portador dos sentimentos e aspirações do espectador. Quanto a Lee Gyu-hwan, outra celebridade da época dos filmes mudos, evoca no seu filme The Ownerless Ferryboat a cólera do povo, vítima das exacções do imperialismo japonês, colocando em cena um bateleiro que mata um engenheiro dos caminhos de ferro. Por fim, História de Chunhyang (1935), primeiro filme coreano falado, é uma adaptação de um romance clássico, mas que evoca também o sofrimento e a tristeza dos contemporâneos.

Nos anos 1960, após o período de destruições maciças desencadeadas pela guerra da Coreia (1950-1953), que seguiu de perto o fim da colonização japonesa (1945), cineastas como Shin Sang-ok, Yoo Hyon-mok, Kim Soo-yong, Kim Ki-young ou Lee Man-hee permitem aquilo a que chamamos de “Renascimento” do cinema coreano. Os talentos deles exprimem-se através de uma grande variedade de registros que vão das obras de autor aos filmes de grande público, tendo este conjunto em comum o fato de refletir a realidade social e de se apresentar como porta-voz do povo coreano.

Esta tradição artística, que poderíamos qualificar de “realista”, conhece, no entanto, um parêntesis nos anos 1970 devido à severa censura instituída pelo regime ditatorial da altura. Sob a vigilância e o controlo que exerce, apenas são autorizados melodramas, filmes de ação sem enraizamento local, ou ainda obras de propaganda com a única função de preencher a quota necessária para poder importar filmes estrangeiros. No campo industrial, mas também do ponto de vista da qualidade artística, o cinema coreano mergulha inevitavelmente numa depressão da qual dificilmente sairá.

(*) Lee Chang Dong é argumentista e realizador. Recebeu o prêmio do argumento para Poetry, apresentado na Competição em Cannes em 2010.